A propósito de um comentário do jj.amarante num post anterior, sobre uma série de escândalos em Portugal, escrevi lá - e repito sensivelmente o mesmo aqui - que, por estes dias, o presidente da República da Alemanha está prestes a ter de abandonar o seu cargo. Por causa de um antigo empréstimo privado contraído junto de um amigo empresário, passado depois para empréstimo bancário aparentemente com condições vantajosas (um político não pode aceitar vantagem de espécie alguma, nem sequer um upgrade no avião) e - muito mais grave! - um telefonema irado que fez ao director do jornal que tencionava publicar aquela matéria. O escândalo do telefonema rebentou anteontem, e penso que o presidente não se aguenta nem até ao fim desta semana. Provavelmente vai cair hoje.
Angela Merkel tem andado muito calada desde que rebentou a bomba do telefonema, mas a oposição, que até agora mantinha que não se pode mudar de presidente de dois em dois anos (o anterior, também eleito pela direita, abandonara o segundo mandato ao fim de ano e meio) começou a elevar o tom das críticas, e da própria CDU vêm comentários como "cada hora que passa com o presidente a tentar permanecer agarrado ao poder é uma degradação da cultura democrática" (Vera Lengsfeld).
Olho para o que aqui se está a passar, comparo com a casa de férias do Cavaco e a história das acções do BPN, e concluo que a diferença mais importante entre a Alemanha e Portugal não é o poder económico - é o modo como todos lutam afincadamente para garantir a credibilidade do sistema democrático.
6 comentários:
Muito bem, Helena!
A. Castanho.
Cala-te, A. Castanho, que eu estou a ver se isto passa despercebido...
O homem vai-se aguentar. Apesar das mentiras e das pressões, vai-se aguentar. É verdade que foi à tv bater com a mão no peito, que agi muito mal, que tive um comportamento incorrecto e que lamento, tal e coisa, e agora mais de metade dos alemães quer que ele fique.
Enfim...
Coitadinha da consciência dele...
Mas até dentro do próprio partido que o elegeu há críticas muito fortes. Ao menos isso.
Por isso mesmo, o que tu escreveste aqui mantém toda a sua validade incial e é sempre de aplaudir, quer ele se venha a demitir ou não...
A. Castanho.
Ainda não perdi a esperança que ele caia. Outro dia li uma opinião muito engraçada: "Diz-se que o presidente é uma espécie de substituto do Kaiser, mas o Wulff tornou-se uma espécie de substituto do presidente".
Também já ouvi dizer que ele escusa de ter ilusões de vir a ter um segundo mandato.
Ao menos isso.
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