Algumas boas achegas para o post "vai trabalhar, ignorante!" da Rita Dantas:
1. O testemunho de um dos jovens que aparece no vídeo, onde ele afirma que só passaram a pergunta que ele errou, explica como o erro aconteceu, e que foi imediatamente corrigido.
2. Um post do Vítor Lucas Lindegaard, de um blogue que toda a gente lê (ou devia), sobre o mesmíssimo tema (a ignorância das novas gerações).
3. Outro post do Vítor, sobre o empobrecimento da expressão em português.
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E ainda dois comentários completamente à margem, a partir de casos que me são próximos:
- Já ouvi gente a rir de cartas vindas dos EUA endereçadas a "Lisbon, Spain". Essas pessoas saberão dizer qual é a capital do Arizona, ou de Oklahoma? (sim, isto é uma variação do que o Vítor escreveu)
- Os tradutores que eu conheço estão integrados em grupos de entreajuda na internet. Se não sabem, perguntam. Já ouvi discutirem coisas tão interessantes como o significado de oferecer jacintos brancos a uma mulher no séc.XIX (talvez não fossem jacintos, mas não me apetece agora ir investigar) para tentar traduzir o melhor possível uma cena do filme “Kate & Leopold”. Poucos meses depois de surgir o primeiro grupo internético de tradutores brasileiros, há cerca de 16 anos, alguém perguntava, feliz e surpreendido: "como é que nós trabalhávamos antes?!"
Não apenas os tradutores, todos nós: como é que trabalhávamos antes de haver internet, e que qualidade tinha o nosso trabalho se só podíamos recorrer aos livros disponíveis e a uma rede de contactos relativamente exígua?
A informação que há quinze anos nos custaria dias ou semanas de pesquisa, conseguimos hoje em meia hora. Beethoven? Duas horitas de internet, entre wikipedia e youtube, e chega-se a uma plataforma de informação como na geração anterior só existiria para uma parte da elite cultural: os "nerds" de Beethoven.
Talvez há vinte anos fosse muito importante conseguir disparar à primeira "Miguel Ângelo!" e "H²O!" (espero ter acertado, não me apetece ir agora investigar). Hoje já não é. Hoje, fundamental mesmo é ter espírito crítico e inquiridor, saber formular perguntas e saber encontrar-lhes a resposta. Ah, e conhecer um bom técnico de informática, que saiba ressuscitar o PC as vezes que for preciso (mesmo que não saiba mais nada, nem o nome do nosso primeiro-ministro - Passos Troika - nem quem foi o Pelé).
Finalmente: não percebo o prazer perverso em dar de nós a pior imagem possível. Este filme manipulou a realidade para dizer aos portugueses que alguns de nós não prestam. Se me deixassem mandar (sim, já cá faltava esta!) criava uma figura nova de crime, o "manipular informação para deliberadamente denegrir a imagem do país, de grupos ou de pessoas" (bom, o último já é crime) e tirar a carteira profissional a "jornalistas" que nele incorram.
8 comentários:
É fantástico! (o primeiro, o segundo ainda não li - não dou vazão a isto)
Existe o pau e a cenoura e dois tipos de classes dominantes, as que estimulam e motivam e as que denigrem e amachucam. Em Portugal esta última tem tido uma predominância que não temos conseguido reduzir, foi assim que tivemos o Salazar durante tanto tempo.
Este exercício de achincalhamento serve basicamente para nos convencer que somos todos uns madraços e incompetentes, que temos que trabalhar mais horas por menos dinheiro, que não devemos ter feriados e que nem vale a pena pensar porque somos uns nabos e temos uns senhores que pensarão por nós de forma muito melhor do que o povo alguma vez será capaz. Faz portanto parte da ideologia da parte mais reaccionária da nossa sociedade.
Desse lado não se pode esperar qualquer mensagem de esperança.
jj. amarante,
um país a caminho do suicídio...
Rita,
conheço tão bem esse problema de não dar vazão...
Nem me digam nada, entre os posts da Rita (e as centenas de comentários), os teus ;) e os que vocês vão linkando, não me sobra tempo para nada... :)
(juro que quando vi o primeiro link para o tal vídeo, o que me veio à cabeça foi um "vai trabalhar, mas é"... Podia dizer que acho que a cultura do "vai trabalhar mas é" devia ser erradicada, mas se calhar depois ninguém mandava trabalhar e as pessoas eram capazes de o fazer (trabalhar, não mandar) só por pirraça...)
snowgaze: vamos trabalhar? (estou aqui com uns atrasos que até me encolho só de pensar)
arizona e oklahoma não sáo países. há uma diferença, nao achas?
«ter espírito crítico e inquiridor, saber formular perguntas e saber encontrar-lhes a resposta». explica-me por favor como tal é possível a quem nao sabe pensar, porque nem tem dados para pensar.
concordo com o teu finalmente: mas que ele nao seja o sol a tapara a ignorância, e, muito mais grave, o gáudio por ela (dos próprios).
ontem o sol disponibilizou o video do joao ladeiras, sem qq corte. ele nao rectifica coisa nenhuma.
detalhe? se-lo-ia se nao tivesse escrito, indignado, que imediatamente tinha rectificado.
seja como for, o rapaz tem razao em estar furioso, por, 1º, ter acertado praticamente tudo (e pt a imagem que dele se dá ser falsa e manipuladora), e, 2º, ter causado estragos à sua reputação. mas, essencialmente - e por isso tanto simpatizei com ele nesse video - porque a certa altura diz algo como 'neste momento nao me estou a lembrar, mas é imperdoavel, devia saber'.
ESTA a séria questao que se deveria estar a discutir por estes dias. mas toda a gente, parece-me, prefere assobiar para o ar e optar por gritar escandalo por mau jornalismo, desculpar a ignorancia patenteada, justificar os erros com mil e uma razões, perdoar as razoes dadas pelos proprios por estarem nervosinhos com camaras em cima. alguns daqueles imbecis, que nao tem outro nome, alardeiam a sua ignorancia como se fosse uma medalha.
e sabes, helena, muito mais preocupante, para mim, do que vi naquele video, é o que tenho visto e lido de pessoas que considero em reacçao a ele.
relativizem, relativizem. desculpem e justifiquem. mas depois nao se venham queixar da mediocridade e ignorancia dos nossos actuais politicos e deputados, sim? pois estes mesmos jovenzinhos estarao sentados na AR nao tarda nada - desde que se saibam mexer, e ai, como eles se sabem mexer bem na mixórdia.
(para n dizer a outra m word)
desc se soei agressiva, nao era o meu proposito.
bjinhos
Eh, esqueci-me de responder a isto!
Ainda estás aí, sem-se-ver?
Olha que não sei se Oklahoma é menos importante que Portugal. Mas é seguramente uma questão de a gente se rir da ignorância dos outros, e esquecer que há perspectivas diferentes. Posso dar um exemplo mais adequado: os americanos acham que a segunda guerra mundial começou quando eles entraram na guerra (antes não era mundial, era europeia). Os europeus acham que a segunda guerra mundial terminou em maio, os americanos dizem que foi em agosto, depois das bombas atómicas. No fundo, somos todos igualmente umbigueiros, é o que é.
Tu agarra-me, que eu estou quase a dar-te razão. ;-)
E não foste nada agressiva.
O que eu não gosto: que se manipulem factos para dar uma imagem pior da realidade.
O que não me incomoda: que os miúdos se riam e tentem safar o amor-próprio perante a câmara de tv.
Mas tens razão: relativizei demasiado. E é óbvio que pessoas assim podem muito bem ser os chefes de amanhã. Embora, cá para nós: já anda gente assim nas chefias de tudo, no governo, nas escolas. O futuro já começou.
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