24 junho 2011

a tradução do amor



Eu a repetir-me quando se trata da Pina Bausch: fantástico.

E agora, um pouco de análise linguística, para não pensarem que eu conseguia sair deste post discretamente e sem divagações:

Gosto: o gesto de "I understand" (quase se vê a lampadinha a acender no cérebro)
Não gosto: o gesto de "I love" (o que estão ali a fazer aqueles punhos fechados? Se me deixassem mandar - agarrem-me, que eu.. - para "I love" cruzava as mãos sobre o coração e girava-as com delicadeza para a frente) (para "amizade" fazia o mesmo, mas só com uma mão) (ó Heleninha, e de resto está tudo bem, não tens mais nada que fazer hoje?) (tenho, tenho, então até loguinho)

6 comentários:

Rita Maria disse...

Nao é interessante como quando tentamos inventar uma língua nova vemos sempre o amor como uma espécie de amizade plus, uma steigerung, o patamar seguinte? Já te contei (acho eu) de quando discuti as cores e os sentimentos com a Vitória e o Júlio muito novinhos: nao tiveram dúvidas de que o amor era vermelho, por isso de seguida decidiram que a amizade era cor de rosa, que era o que dava amor mais branco.

É um bocadinho como as tuas maos...

Helena Araújo disse...

sim, e por essa ordem: primeiro definimos o amor, depois tiramos-lhe uma coisinha para ficar amizade.

Achas que têm raízes diferentes? Devia ser vermelho/amarelo?

(mudando completamente de assunto: à uma no palerma que me anda a enganar com as Bratkartoffeln?)

Rita Maria disse...

Sim, mas se quiseres também pode ser no Asian Fusion chique do lado ou na gelataria do caramelo salgado...

PS: Ai, nao me perguntes a mim..o amor mistura tantas coisas que, conhecendo melhor acho que dava castanho, independentemente de por onde se começasse a misturar. Por outro lado também a amizade tem essas coisas todas...só lhe falta o desejo? E o meu amor pelos meus fratellicos mais doces - um amputado cromático? No fundo amizade? Ou é só uma questão de concentraçao? O que dizia o Goethe? E o Kandinsky? Vou ver.

Paulo disse...

O almocinho foi bom?

Então vamos ao que interessa. Acho "Nelken" uma das melhores criações de Pina Bausch, sendo que é difícil encontrar uma que seja menos boa. Assisti a uma representação no Teatro de São Luís, aquando da penúltima (?) visita de Pina a Lisboa. A própria, com a sua fraquinha e esplendorosa figura, estava sentada na mesma fila que eu, a escassas cadeiras de distância.
Acho também que esta cena é um dos exemplos mais significativos do seu génio criativo. Gosto da lâmpada, gosto das mãos fechadas, amando como quem aperta um tesouro, gosto do "big and strong", gosto tanto que já revi umas três vezes.

Helena Araújo disse...

O almocinho foi bom, a conversa foi melhor, já estou com saudades e ainda nem saí de Berlim!

Grande sortudo, Paulo: sentado ao lado da Pina!
Agora fiquei com uma dúvida: isto pareceu-me a linguagem gestual standard. Achas que foi inventada por ela?

Paulo disse...

Penso que é linguagem standard.

Foi bonito estar ao pé dela. No final, levantou-se (afastei-me para ela passar - isto devia ser mencionado em todas as suas biografias) e foi ao palco cumprimentar os bailarinos e receber uma chuva de aplausos. À saída ficou a trocar palavras com o povo.