12 maio 2010

espelhos

O que tenho lido de reacções de desagrado à visita do Papa deixa-me surpreendida e decepcionada.
Confesso que não me dá jeito ver à esquerda a mesma intolerância e o mesmo fundamentalismo cego que vejo à direita.
Arrojas e Césares das Neves também do "meu" lado?!
Que tristeza.

Vamos com calma, que há lugar para todos.

Porque é que não são capazes de simplesmente tolerar a diferença?
Porque é que estão tão nervosos e fazem questão de negar este gosto a tantos portugueses?
Porque é que a Igreja Católica os incomoda tanto? No plano concreto das realizações, são estes os factos: recentemente, e apesar das posições morais que a Igreja tem todo o direito de ter e enunciar, este país de católicos aceitou - entre outros - a interrupção voluntária da gravidez e o casamento de casais do mesmo sexo, sem que se tenha sequer esboçado um início de grandes convulsões sociais.

A queixa do incómodo que a visita provoca no trânsito é a mais ridícula de todas.
Pobre provincianismo. Venham a Berlim ver como é que é conviver com visitas de Estado quase a ritmo diário.
É uma maçada? Pois é, e direi mesmo mais: quando calha de serem políticos americanos ou israelitas, é uma autêntica Massada!
Mas nunca ouvi ninguém lamentar-se que "ai que chatice, queria ir tomar um cafézinho ao outro lado da rua e está aqui a visita deste chato a trocar-me as voltas, porque raio não fica ele na terra dele?"

É óbvio que todos têm o direito de dizer o que pensam.
Mas rio-me só de imaginar a reacção de certos blogues portugueses se alguém publicasse, a propósito de uma gay pride parade (por exemplo), comentários semelhantes aos que eles próprios publicam a propósito da vinda do Papa.
Façam a experiência, é muito divertido: nesses posts de protesto, onde estiver "visita do Papa" ponham "gay pride parade", e onde estiver "católicos" ponham "homossexuais". Mas também podem trocar para "manifestação dos professores" e "professores", ou "festejos no fim do campeonato de futebol" e "benfiquistas", etc.

Espelhos.

8 comentários:

Gi disse...

Ah o que eu protestava quando vivia em Lisboa e me fechavam as avenidas para corridas de bicicletas ou meias-maratonas.
Chato, chato, em relação à visita do Papa, é praticamente não se falar de outra coisa nos meios de comunicação. Até na Antena2.
Por outro lado, assim não se fala (tanto) do Benfica, o que seria muito mais chato ;-)

Paulo disse...

Tinha deixado aqui um comentário mas penso que se evaporou. Era só para dizer que concordo. Isto é, devo ter dito mais qualquer coisa mas já não me lembro.

Helena Araújo disse...

Paulo,
assim näo me dá jeito.
Näo me arranjas de discordar um bocadinho?
;-)

Gi,
passam a vida a fechar a avenida junto à minha casa para corridas, meias-maratonas, manifestacöes, etc.
A avenida ao lado da escola do meu filho fecha às sextas feiras para fazerem um mercado na rua.
No Porto fecharam algumas vezes a Avenida dos Aliados para passar o cortejo de Carnaval dos miúdos.
Eu acho óptimo que volta e meia as ruas da cidade sejam usadas para as pessoas, em vez dos carros.

Visitas de Estado é outra coisa, claro. É usar as ruas só para alguns carros. Mas é um dos precos a pagar para se ser uma capital. Ainda näo inventaram as visitas de Estado por internet... ;-)

Quanto aos meios de comunicacäo social: depreendo que estejam a dar ao povo o que o povo gosta. Bom seria se também dessem conteúdos - espero que aconteca!

(tenho um computador novo, e ainda näo fui à procura do teclado portugues)

Helena Araújo disse...

teste: çã çõ ñ
eh eh eh

já está
agora só me falta recuperar o ficheiro do outlook, que tem mais de 2 giga e rebentou

Paulo disse...

Eu também gostava de discordar, o que estaria mais de acordo com o que penso em relação a toda esta história.

Helena Araújo disse...

Eu também, também gostava de discordar...

;-)

Estou a ler a correspondência entre Sophia e Jorge de Sena. Eu às vezes idealizo um bocado a esquerda, mas eles cuidam de lembrar: nem tudo é perfeito neste "meu lado".

Paulo disse...

Seria tudo óptimo se a perfeição existisse.

Helena Araújo disse...

Pois é.
E o segundo óptimo é sabermos que ela não existe, nem em nós nem nos outros, e andarmos por aqui com uma certa tolerância em relação aos outros, e exigência em relação a nós próprios.