23 dezembro 2008

a suave vingança dos pagãos

Não deve ser novidade para ninguém que as festas de Natal e da Epifania foram encostadas a celebrações pagãs de deuses e solstícios.
Num instantinho, assim coisa de séculos, arranjou-se maneira de transformar uma construção literária cheia de simbolismos - história de pastores e reis, anjos e estrelas que indicam caminhos - em factos históricos indesmentíveis e tradições do sagrado.

E assim chegámos ao feriado e às festas em torno de um presépio, como se não houvesse solstício, nem deuses pagãos, nem nada.
Natal, na nossa curta memória sempre Natal: desde o princípio dos tempos até ao fim dos tempos.

Esta semana fui a uma papelaria procurar postais, e eis o que encontrei:
- rouxinóis pousados em ramos de azevinho cobertos de neve
- crianças a empurrar trenós cheios de presentes
- uns velhotes gordos de barba branca e roupa vermelha, com ar de gostarem muito de cerveja
- pinheiros (abetos?) cobertos de neve com velas e bolas coloridas

Do presépio, nem sombras. Anjos e madonas, nada.

São estes os nossos símbolos do Natal?!
(e, para ficar mais divertido ainda: imaginem estes símbolos em países onde agora é Verão, como, por exemplo, o Brasil...
Passámos lá uma vez um Natal, e era muito engraçado ouvir os nossos filhos a cantar todo o seu repertório do Christmas caroling, "Im dreaming of a white christmas", "Dashing through the snow...", e outras do género, a morrer de calor no meio das palmeiras e dos macacos da selva que começa às portas de Santa Teresa no Rio de Janeiro)

Será que o fim dos tempos está próximo?...
Será que os pagãos regressaram, e a sua vingança é terrível?...

Bem, muito terrível não é: o Natal foi transformado numa festa de encontros familiares e milhentos cartões - que interessa se têm motivos de puro kitsch? - para dizer às pessoas "pensei em ti e desejo-te tudo do melhor!"

O que não impede os cristãos de, para além da festa e dos encontros, relembrarem este momento da revelação e renovarem no silêncio a busca da fonte. E irem a uma livraria cristã procurar os postais que considerarem mais adequados.

Sendo assim: desejo um bom Natal a todos, e que cada um o realize da sua melhor maneira!

***

Voltando aos símbolos e ao kitsch: por estas bandas há a tradição de uma coroa de Advento.
Um anel feito com ramos de pinheiro e cedro, com quatro velas, uma para cada domingo de Advento - que se acendem a partir do domingo correspondente.
Circular, para designar a eternidade ou talvez a antiga aliança, verde para simbolizar a vida, com luzes para anunciar a vinda daquele que é luz.
Gosto do símbolo, gosto da luz das velas, gosto do ambiente que empresta à nossas refeições em Dezembro. Talvez seja algo pagão, mas é bonito.



Finalmente, e à laia de "the ultimate Christmas gift": espreitem aqui.
Ho-ho-ho, merry Christmas!

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