19 dezembro 2007

arte e fé

Lutz,

ia comentar este teu post, mas ficou um texto demasiado longo, e por isso comento aqui.

Aviso já que pouco percebo de arte e do mundo em que nasce e se desenvolve. Sei um pouco de compadrios, de protecções, de padrinhos. Quanto às obras, quando muito sei se gosto ou se não gosto. Facilmente me podem demonstrar que gosto de pirosices monumentais, ou que nem me apercebi que estava perante obras fundamentais da Humanidade.
Também não percebo a afirmação, que já ouvi várias vezes, de que o cristianismo deixou de produzir arte. Conheço belíssimos poemas do nosso tempo, vejo nas igrejas e nos livros boa arte sacra moderna.
Mas - lá está, pouco percebo disso - os especialistas podem sempre afirmar que isso que eu vejo nas igrejas e aprecio não é bem arte, é mais artes decorativas para beatas.
Aliás, ando há meses para te perguntar o que há de errado com a nova igreja de Fátima. Gostei do que vi nestas fotografias.
Talvez se pudesse ter optado por arte menos descritiva (e por ser mais descritiva é menos arte?), mas penso nos clientes que pagaram essa obra e nas suas expectativas. Até que ponto é que o artista é de facto independente do cliente ou do mecenas?


No teu post, tive dificuldade em entender a frase que citaste de Milliner, e por isso pesquisei o seu contexto. Encontrei-o aqui:
"Contemporary art refuses any set form, content, or medium--but it does, nonetheless, insist on one sure commandment: Religion has to go. The Art Institute of Chicago's James Elkins lays down this law in his book On the Strange Place of Religion in Contemporary Art. The art world, he says, "can accept a wide range of 'religious' art by people who hate religion, by people who are deeply uncertain about it, by the disgruntled and the disaffected and the skeptical, but there is no place for artists who express straightforward, ordinarily religious faith."

Indeed, Elkins writes: "To fit in the art world, work with a religious theme has to fulfill several criteria. It has to demonstrate the artist has second thoughts about religion.... Ambiguity and serf-critique have to be integral to the work. And it follows that irony must pervade the art, must be the air it breathes." It is a given, of course, that such irony cannot extend to the rejection-of-religion rule: "Committed, engaged, ambitious, informed art does not mix with dedicated, serious, thoughtful, heartfelt religion."


Percebi bem? Não será propriamente uma questão de a Fé conseguir ou não produzir obras de arte, mas um caso de mobbing no mundo dos artistas.

Fui procurar mais. E encontrei Dali e Warhol. Ainda Milliner:


None of this is to suggest that Warhol was another “Beato Angelico” any more than was Dalí, but simply to assert that both artists were seriously, un-ironically Catholic. What is truly remarkable, however, is not that God meets celebrity artists–but that the ravages of fame leave enough of their selves to be met.

Though the Dalí illustrations now on view are not on the scale of Warhol’s Last Supper, both series are hard material evidence to counter a cherished illusion. The artist Isamu Noguchi represented a main thrust of twentieth century art when, at a Yale lecture in 1949, he asserted, “Religion dies as dogma, it is reborn as a direct personal expression in the arts.” Dalí and Warhol both tell a different story: Art dies as dogma, it is reborn as a direct personal expression in religion.


(Matthew J. Milliner is a Ph.D. candidate in art history at Princeton University. He blogs at millinerd.com.)


Será que é preciso ser um artista muito famoso para sobreviver profissionalmente a um processo de conversão?

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