Já sabia que sou uma mãe muito má, muito má, muito má, mas ignorava ser tão irresponsável e negligente.
Se penso na quantidade de vezes que deixei os meus filhos a dormir e fui a casa dos vizinhos, ou num instante comprar leite, ou até, cúmulo dos cúmulos, jantar no restaurante do hotel...
E afinal: sou só eu e aquele casal inglês, ou fazemos todos o mesmo?
Faz sentido exigir dos pais que não abandonem os seus filhos por um minuto sequer, em caso algum, em momento algum?
Digam lá, a sério: alguém acredita nisso?
Mas desde quando, e porquê?
Na minha infância, não era assim que se tratava das crianças. Muito menos na infância dos meus pais.
Admito que morressem mais crianças devido a acidentes vários, acredito que houvesse ainda mais pedófilos (a começar pelo vizinho, o pai da amiga, ... haverá alguma mulher da minha idade que não tenha uma história dessas para contar?).
Hoje em dia, para combater a insegurança, queremos que os filhos sejam criados numa redoma e vigiados constantemente. Isso será uma alternativa saudável e exequível?
Se é essa superprotecção que se exige dos pais, então a verdadeira irresponsabilidade é engravidar.
Quem ousará pôr filhos no mundo, sabendo que nunca estará à altura das suas responsabilidades?
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Pelos vistos há países de tal modo perigosos e inseguros, que se espera que os pais considerem seriamente todas as eventualidades de alguém raptar os seus filhos - e entre elas, um muito provável arrombamento da janela do apartamento às 9 da noite, para levar a criança que dorme no seu quarto. Países onde os adultos devem estar permanentemente de sobreaviso, não se podendo afastar da criança em momento algum.
Países onde uma criança é raptada e se diz que a culpa foi dos pais.
Só negligentes e irresponsáveis é que marcariam férias num país tão inseguro.
(Mas eu sou irrecuperável: já comprei as passagens de avião, seis semanas em Portugal - de meados de Julho a fins de Agosto)
(E, se me permitem o humor negro, optimista: comprei passagens de ida e volta para todos...)
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