26 setembro 2017

a AfD e as lamúrias sobre "a ditadura do politicamente correcto"

Há tempos, Alice Weidel, uma das figuras mais importantes da AfD, disse que "o lugar do politicamente correcto é na lixeira da História", e foi muito aplaudida. (*)

Entretanto já sabemos a que é que ela se referia, e não era a lamúria já muito nossa conhecida, do género "hoje em dia já não se pode dizer nada, há sempre alguém que fique ofendido...". Ia muito mais longe: ao atacar o "politicamente correcto", o que a AfD pretende é poder alertar abertamente para "a conspiração judaica mundial", afirmar que o Holocausto é um mito resultante de uma manipulação, defender a protecção do povo alemão contra "a estratégia de miscigenação com o objectivo de o enfraquecer", e outras "banalidades" do género.

Sobre a AfD estamos conversados. A questão que me interessa agora dirige-se às pessoas que se lamuriam por causa do colete de forças da "politicamente correcto":

Que combate querem combater?
Querem mesmo retroceder nos esforços para uma comunicação consciente do poder de determinadas palavras para humilhar e reforçar preconceitos? Porquê?
E se querem lutar abertamente a favor desse retrocesso, como vão impedir a abertura dos diques que tornam um discurso de ódio como o da AfD de novo aceitável nas nossas sociedades?
Defendem que a liberdade de expressão inclui o direito de fazer discurso de ódio, do antisemitismo, de racismo?
As pessoas têm o direito de dizer tudo o que lhes apetecer, e não devem ser sequer criticadas por isso?

A propósito: nos EUA há um site que divulga fotos das pessoas que participaram na manif racista em Charlottesville, o que levou a que algumas delas perdessem o emprego. Tenho sentimentos contraditórios em relação a esta acção e às suas consequências - que me dizem vocês?

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(*) A seguir um engraçadinho de um programa satírico mostrou a passagem do discurso em que Alice Weidel dizia "o lugar do politicamente correcto é na lixeira da História", e comentou: "acho que a badalhoca nazi tem toda a razão! (espero ter sido suficientemente politicamente incorrecto)" - e ela foi-se queixar a um tribunal, o que foi motivo para chacota geral.


2 comentários:

Carla R. disse...

Deve-se respeitar a vida pessoal de cada um, mas participar numa manifestação não é um acto individual, é algo colectivo, publico. Queremos ser vistos e ouvidos. Quando participamos em manifestações sabemos que podemos aparecer em jornais, televisões, gabinetes de recursos humanos. Alias, queremos aparecer, é esse o objectivo. Divulgar fotos de manifestações parece-me normal.

Depois logo se julga se as consequências são correctas.
Despedir aguém por aparecer numa gay pride é discriminatorio e ilegal. E, possivemente, neste caso também...

Helena Araújo disse...

O meu problema é sobre as pessoas serem perseguidas por terem aparecido numa manifestação.
Traduzo esta manifestação para uma que podia ter acontecido em Portugal, quando tiraram do jardim dos Jerónimos os brasões coloniais. Se tivesse havido uma manif contra essa medida, seria correcto fotografar as pessoas e publicar as caras na internet, dizendo que são fascistas e colonialistas?

Confesso que não sei quem foram os fotografados (eram os que tinham uma bandeira nazi? os que estavam fortemente armados? ou eram pessoas que simplesmente não queriam que aquela estátua fosse retirada, se calhar até por ignorância do seu significado?) ~e não sei quem foi despedido, e que tipo de trabalho fazia - o que dificulta bastante conseguir ter opinião sobre isso.

Divulgar fotos de uma manif é normal.
Divulgar fotos de pessoas lançando uma campanha contra elas já me parece muito complicado - tanto mais que também não gosto das listas que os neonazis fazem com pessoas que tomam posição contra eles.