25 fevereiro 2017

dia 6 da Berlinale 2017




(Já lá vai mais de uma semana - não precisam de ler, estou a escrever apenas para mim :) )

14 de fevereiro. Na sessão para a imprensa, às 9 da manhã, havia uma fila de cadeiras toda ocupada por italianos de meia-idade, todos homens, a desejar-se mutuamente um bom São Valentim.
Por essa altura, já andava confusa de cansaço: pensava que ia ver o "Colo" de Teresa Vilaverde (e fiquei muito satisfeita ao ver a fila interminável de interessados no filme) mas afinal era o "Toivon Tuolla Puolen" ("o outro lado da esperança") de Aki Kaurismäki. A história de um refugiado sírio que vai dar à costa da Finlândia, contada numa linguagem contida e com a conta certa de humor para aliviar a violência crua dos neonazis e a violência asséptica e ainda mais brutal da burocracia estatal. Um bom filme, mas com um refugiado demasiado "boa pessoa" - e não quero dizer que os refugiados são más pessoas, apenas que têm o direito de ser pessoas imperfeitas, como todos os outros.




Na roulotte de Käsespätzle não tinham troco para a minha nota de 100 euros. Disseram-me para comer, e voltar lá com uma nota mais pequena quando pudesse. Eram apenas 5 euros, mas fiquei com vontade de gostar de toda a Humanidade.




O segundo filme do dia foi The Party, de Sally Potter. Tínhamos visto os artistas chegar para a première, no dia anterior. O Bruno Ganz, que no tapete vermelho me lembrou o Hitler (e a culpa é dele: ninguém o mandou fazer um Hitler tão extraordinariamente bem conseguido em A Queda) tem um papel hilariante neste filme. Já lhe podiam dar o Oscar - não pela representação propriamente dita, mas por ter conseguido fazer tudo aquilo sem ter ataques intermináveis de riso. Um óptimo filme: ritmo, energia, tensão, excelentes diálogos e excelentes actores.


Belinda, de Marie Dumora, é um documentário que resulta de uma aposta ousada: acompanha a evolução de uma miúda da etnia yeniche, que é retirada aos pais e vai crescendo entre os serviços sociais e as saudades da família - especialmente do pai, que passa muito tempo na prisão. Confesso que adormeci quando ela estava a telefonar ao pai, ainda preso, e quando acordei ela estava a ir para a prisão vestida de noiva, para casar com o namorado que estava preso. Talvez tivesse sido menos doloroso se tivesse acompanhado todo o processo. Mas não: saí do cinema sentindo-me triste por ter visto uma miúda que parecia ter todos os caminhos pela frente dar lugar a uma jovem mulher a arrastar-se penosamente numa existência sem perspectivas, sabendo que aquela história é real, está a acontecer, e não é única. E que provavelmente vai ter filhos, que um dia telefonarão ao pai na prisão. Como é que se quebra este círculo vicioso?




La Reina de España, de Fernando Trueba, é um filme um pouco desequilibrado: oscila entre a acusação ao franquismo e uma leveza inconsequente. Salva-o o trabalho da Penelope Cruz.


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