19 janeiro 2015

viva o direito de ofender, doa a quem doer...

(foto)


Nevou na Arábia Saudita, algumas pessoas divertiram-se a fazer bonecos de neve, um clérigo disse que os bonecos de neve eram tão proibidos como todas as outras imagens que representam seres com alma. Ou algo assim. Muita gente na Arábia Saudita protestou (o meu comentário favorito é este: «Que Deus preserve os académicos, pois eles gozam de uma visão afiada e reconhecem problemas que nem passam pela cabeça de Satã», aqui) e acredito que tenham ficado com tanta vontade de obedecer como quando em Portugal certos cristãos dizem que sexo é só para ter filhos.

Para libertar o Raif Badawi, que foi condenado na Arábia Saudita a levar cinquenta chicotadas por semana até perfazer mil - ou seja: que está condenado a uma horrorosa morte lenta -, a Amnistia Internacional finlandesa resolveu fazer uma manif em frente à Embaixada daquele país. E teve a brilhante ideia de usar como manifestantes os bonecos proibidos pela fatwa.
Quatro coelhos com uma cajadada, isto é que é eficiência! Mostram que não têm medo das fatwas sauditas, sublinham que nós cá temos liberdade de expressão, manifestam-se pela libertação do Raif Badawi e, em vez de ficarem horas e horas especados ao frio, fazem umas fotografias e vão para casa pô-las na internet.
 
Suponhamos que aqui há uns aninhos, em Portugal, a PIDE estava a torturar um homem chamado, sei lá, Manuel Silva. Suponhamos que por essa altura alguém importante da Igreja em Portugal tinha dito que a Nossa Senhora de Fátima era o non-plus-ultra da pureza e o símbolo nacional por excelência. Suponhamos que noutro país um grupo de engraçadinhos ia para a frente da Embaixada de Portugal pespegar imagens da Nossa Senhora de Fátima feita mulher fatal, com cartazes a dizer "free Manuel Silva". A PIDE nem ia torturar com mais acrimónia nem nada, suponho. O Manuel Silva ia ficar muito agradecido aos engraçadinhos, suponho.

(Este seria o momento em que eu ia buscar o cartoon do CH, e trocava a cara do Maomé pela do Raif Badawi a dizer "c'est dur d'être aimé par des cons!")


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