13 fevereiro 2013

Berlinale 2013 - Mes Séances de Lutte



A nossa entrada no Friedrichstadt Palast coincidiu com a dos artistas. Vento e temperaturas negativas, nós dentro de casacos e gorros, a Sara Forrestier num vestido curto e sem costas. Brrrr. Parecia perdida e extraordinariamente frágil no meio do tapete vermelho e do frio, e escapou-se rapidamente para dentro do edifício.

Antes de começar o filme, o realizador Jacques Doillon avisou, na sua voz sossegada e envolvente: "Esta sala é demasiado grande para os meus filmes, eles não estão habituados a isto - espero que Mes Séances de Lutte não se assuste! Também espero que os actores, que neste filme aparecem em situações de grande intimidade, não fiquem assustados. Por isso vos peço: se gostarem do filme, contem a todos. Se não gostarem, não comentem nem com o vosso vizinho de cadeira."

Mes Séances de Lutte: "um surpreendente pas de deux", dizia o programa. Uma psicanálise que dá o corpo ao manifesto, e não apenas no divã, acrescentaria eu. Um filme inquietante, que nos leva a um interior em carne viva, onde a sede de amor se traduz em raiva funda e incapacidade para amar.
Apesar dos diálogos demasiado rápidos - ou os franceses são muito inteligentes e bem treinados para ouvirem dentro de si e responderem de rajada, ou então estamos perante teatro pouco convincente - é um belo exercício estético, muito bem filmado.

No final, o realizador foi de novo ao palco. Chamou os artistas - e eles foram, hesitantes: James Thiérrée com o braço sobre os ombros de uma Sara Forrestier completamente desfeita. Estava descalça, tinha um vestido leve, chorava. O público aplaudia com entusiasmo, ela dizia non-non-non, abanava a cabeça, limpava as lágrimas, cruzava os braços sobre o peito.
Desceram do palco, e nós parámos de bater palmas. Por respeito. 

2 comentários:

sem-se-ver disse...

bom, tenho de o ver.

Helena Araújo disse...

E depois dizes-me o que achaste?