24 fevereiro 2025

Berlinale 2025 - dia 2




Nevou durante a noite, de modo que eu parecia a Gata Borralheira: antes de sair para a festa, ainda tive de limpar tudo. O que não é tão complicado como possa parecer, porque foi antes das sete da manhã: enquanto ninguém pisa a neve fresca, é facílimo varrê-la do caminho.

Nas estações da S-Bahn sem cobertura havia uma camada alta de neve na plataforma. Aí é que era preciso limpar realmente! Mas, pelos vistos, os outros varredores de neve não tinham de sair a correr de madrugada para ir ver o primeiro filme do dia...




1. Sheng xi zhi di (Living the Land), de Huo Meng

Uma aldeia chinesa nos anos 80, a sentir já as mudanças provocadas pelo processo de industrialização do país. Um filme algures entre a crueldade e a crueza de O Laço Branco de Haneke e o retrato pitoresco de A Aldeia da Roupa Branca. O pequeno Chuang empresta-nos o seu olhar empático e puro para atravessar esta espécie de quadro vivo de um equilíbrio ameaçado pela modernização em curso, mas o caminho do filme é sinuoso e perde-se entre os muitos personagens e episódios. 


2. Hot Milk , de Rebecca Lenkiewicz    

Infelizmente tive de sair a meio, mas estava a ser um bom filme. 


3. Michtav Le'David (A Letter to David), de Tom Shoval

(aqui)


4. Solo Sunny, de Konrad Wolf 

No centenário de Konrad Wolf, este filme de 1980 foi exibido na secção Berlinale Classic. Escolhi-o porque me interessava ver como era a vida em Prenzlauer Berg - provavelmente o bairro mais gentrificado de Berlim - dez anos antes da queda do muro. Mas o filme é muito mais do que o contexto de uma época, e a Sunny é uma figura tão bem conseguida que saiu do écran e anda por Prenzlauer Berg a tentar ser feliz. Ainda hoje. 

Na Akademie der Künste reuniram-se algumas das figuras históricas do cinema da RDA. No palco, contaram uma história velha de quase meio século: Solo Sunny foi apresentado na Berlinale, em Berlim ocidental, e a actriz principal ganhou um urso de prata pelo seu trabalho. O urso de prata ainda conseguiu chegar a Berlim leste, mas o diploma respectivo ficou pelo caminho. Durante muito tempo pensou-se que teria sido obra da Stasi, ou algo assim, até que recentemente os descendentes de um dos responsáveis do filme estavam a arrumar os papéis que ele deixara, e encontraram lá pelo meio o famoso diploma. Que foi finalmente entregue aos descendentes da actriz, no meio de muitas gargalhadas. 





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