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21 junho 2019

genética ou valores - um post muito sério cheio de anedotas



Há dias houve (mais uma) discussão acesa na minha bolha do facebook: alguém falou do assassinato de um político por um terrorista da extrema-direita, e do perigo crescente que estes bandos organizados representam para a Democracia alemã, e logo outra pessoa veio dizer que "a genética é lixada". Como se os alemães tivessem um cromossoma nazi...

Ouço isso muitas vezes em Portugal. Na época da troika, então, era todos os dias. Convenhamos que tem a sua graça alguém recorrer à ideologia nazi para insinuar um problema de nazismo congénito nos alemães, e não perceber que está a fazer figura de nazi. Não tenhamos ilusões: ter nascido em Portugal e ser descendente de alguns árabes e judeus não nos dá "antídotos genéticos" contra os venenos dessa ideologia. Ela é apelativa para todos - a despeito do hábito preguiçoso de a associar aos alemães - porque toca o pior que há em cada um de nós.

Em quase toda a Europa temos assistido a uma viragem à extrema-direita e até à passagem dos eleitores da esquerda para a extrema-direita (por exemplo: os eleitores franceses de classes sociais com menor nível de rendimento - inclusivamente os imigrantes portugueses - que votam Le Pen; os habitantes de algumas regiões da antiga RDA que passaram dos Linke para a AfD, ou a deslocação dos votos no PCP para partidos nacionalistas em certas freguesias do Alentejo nas últimas eleições europeias). Já no tempo do III Reich se contava uma anedota sobre esse fenómeno:

- O que é um ariano?
- ...
- É o traseiro de um proletário.
[em alemão: Proletarier/Arier.]

Não, não é uma questão de genética. É uma questão de escolha consciente e de valores. Mesmo durante o III Reich, ser "ariano" dependia mais da vontade do indivíduo que dos seus genes, como mostram estas duas anedotas muito contadas na época:

* Ariano: loiro como Hitler, magro como
Göring e alto como Goebbels.
* Göring e Goebbels estão a passear na floresta, e cruzam-se com o guarda-florestal, que os cumprimenta respeitosamente:
- Bom dia!
Göring fica irritado, e no dia seguinte manda chamá-lo para saber porque é que os cumprimentou com "Bom dia" em vez de "Heil Hitler".
Resposta do guarda:
- Pareceu-me que o senhor queria vender madeira àquele judeu baixinho, e eu não lhe queria estragar o negócio.

(Por falar em "Bom dia", outra anedota que se contava nessa altura:
Por inveja, Goebbels propõe a Hitler que se deixe de fazer a saudação "Heil Hitler", e se retome o tradicional "Bom dia".
Hitler fica furioso, e responde-lhe aos gritos:
- Enquanto eu estiver à frente do Reich, não há um único "bom dia" seja para quem for!)Na Inglaterra dos anos 30 do século passado dizia-se que a população alemã estava dividida em dois gupos: non-arians and barb-arians. Mas, lá está, esta não é uma distinção aplicável apenas à população alemã e aos 12 anos do III Reich. Aplica-se às atitudes de cada um de nós, todos os dias. Quando, por exemplo, somos confrontados com governos de países europeus que tudo fazem para que os barcos de refugiados não consigam chegar ao nosso lado do Mediterrâneo, e não fazemos nada: estamos a ser non-arians ou barb-arians?

(sim, ando a ler outro livro sobre as anedotas que se contavam no III Reich)
(se me deixassem mandar, os livros escolares de História do século XX tinham uma ou duas anedotas em cada página)

3 comentários:

  1. Embora não sejamos amigas, tinha vontade de abraçá-la por este EXCELENTE texto. Muitíssimo obrigada 💙

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  2. Vou arquivar as anedotas. Não é má ideia mostrar que o humor também é uma arma, e com uma pequena dose de humor conquista-se às vezes uma turma inteira para andanças mais sérias. Obrigada.

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