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10 outubro 2025

*quanto até ao apocalipse?*


Foi em Setembro de 2018, lembro-me perfeitamente. Estávamos a descer a Serra da Arrábida, minúsculos naquela imensidão de verde e de mar, e uma ideia tomou conta de mim com a simplicidade do muito óbvio:

A Natureza subtrai e segue sem sequer pestanejar. Os humanos podem desaparecer com a mesma simplicidade com que todos os dias desaparecem silenciosamente várias espécies.

E depois, uma angústia:

"Que vai ser de Bach sem nós?"

Bach, como quem diz:

Não somos apenas anões avançando sobre os ombros de gigantes, somos responsáveis pela herança que nos deixaram e temos o dever de a transmitir aos vindouros.

Mas não é no futuro de Bach que penso quando reservo mais uma passagem de avião, quando compro um bom bife ou vários queijos, quando vou de carro em vez de transportes públicos, quando compro coisas de usar e deitar fora. "Uma vez não são vezes", e, além disso, "por muito que renuncie a estes prazeres da vida, isso não tem qualquer peso no conjunto do planeta..."

O capitalismo corre-nos nos sangue: a busca do máximo ganho pessoal é uma forma legitimada de estar na vida. Esquecemos que aqui ao leme sou mais do que eu. Em vez de nos unirmos numa radical mudança de rumo, cada um de nós ajuda a conduzir o navio na direcção dos monstros que já se avistam no horizonte.


*** No nosso Largo, por incrível que me pareça, nem todas falaram do mesmo apocalipse:

Rita Maria 

Carla R.

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