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24 outubro 2019

"Astérix"

Não sei bem em que momento o #Astérix entrou na minha vida. Terá sido pela revista Tintim? Terá sido um livro?

Sei qual foi o (meu) primeiro filme: "Os Doze Trabalhos de Astérix" (e quantas vezes penso naquela "casa que enlouquece"...).



Quando apareceu "A Volta à Gália" no quiosque por baixo da nossa casa, armei com os meus irmãos um pedinchório pegado. Farto de nos ouvir, o pai escreveu "Gália" no jornal que estava a ler, e disse-nos para andar à volta dele.

Se fossem os meus filhos, dava-lhes A Volta à Gália, e todos os outros da colecção. Mas os tempos eram outros, e era também outra a gestão do desejo de leitura ds crianças. Ninguém precisava de nos mandar ir ler, ou de nos seduzir para o gosto da leitura. Com a parca oferta infantil que havia na televisão, sem telemóveis nem computadores, estávamos "condenados" à leitura, nos intervalos de brincar com os outros miúdos na rua. 

Leitores ávidos, foi com alegria que nos demos conta da falência da livraria ao fundo da Rampa da Escola Normal, na esquina com a Rua de Santa Catarina. Estavam a vender os livros ao desbarato - e, entre eles, vários álbuns do Astérix em francês. Não é que o nosso francês fosse muito forte, mas com a sede de Astérix que levávamos, até seríamos capazes de aprender chinês. Fizemos o pequeno crowdfunding desse tempo - vasculhar todos os bolsos da casa, e as carteiras que a mãe não estava a usar - e juntámos o suficiente para comprar dois álbuns. Alegria!


Depois de os ler e reler, fizemos um segundo crowdfunding - gavetas, armários, por baixo das almofadas do sofá - e fomos com uma mão cheia de moedinhas tentar comprar um terceiro álbum. O livreiro sorriu, aceitou as nossas moedas e ofereceu-nos todos os livros que ainda tinha. 

Ficámos de tal modo gratos que até tivemos pena de ele estar a fechar a loja. Um senhor tão simpático!

Hoje, à distância de quase meio século, imagino a cena pelos olhos dele: aquele bando de miúdos a rondar a montra uma e outra vez, tão apaixonados pelo Astérix que até se dispunham a lê-lo em francês, as moedinhas miseráveis na palma da mão, o pedido de um desconto...


Uns meses mais tarde, veio a salvação: descobrimos a biblioteca sob as árvores frondosas do Marquês, e sentimo-nos como o Aladino na sua gruta: tesouros por todos os lados! 

É verdade que para lá chegar tínhamos de andar quase meia hora, mas que nos importava? Passámos inúmeras tardes naquela biblioteca, muitas vezes deitados no chão, por ser a posição mais confortável para ler. O responsável da biblioteca gostava de nós. Depois de aviarmos todos os Astérix e Lucky Luke disponíveis, aconselhou-nos outras leituras. 

Há tempos passei no pavilhão da biblioteca do Marquês. Pareceu-me tão pequenino, tão diferente da ideia que guardava dele! E está fechado. 


Já o Astérix, continua grande como sempre. Ou até maior: a cada releitura, descubro novos detalhes da inteligência de Goscinny e Uderzo.

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