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01 setembro 2019

"belicismo"



Do discurso de Hitler perante o parlamento alemão no dia 1.9.1939 (no vídeo, a 1:48):

"Ontem à noite, a Polónia começou a usar também soldados regulares para atacar o nosso próprio território. Desde as cinco horas e quarenta e cinco minutos que estamos a responder aos ataques!
Doravante, responderemos às bombas com bombas. Quem lutar com gás será combatido com gás venenoso. Quem desrespeitar as regras humanitárias da guerra não pode esperar de nós outro procedimento. Permanecerei neste combate, não importa contra quem, o tempo que for preciso até conseguir garantir a segurança do Reich e dos seus direitos."
Há muito que Hitler planeava a invasão da Polónia, e sabotava todos os esforços de mediação por parte dos outros países ocidentais. Uma semana antes deste discurso, e da invasão da Polónia, os ministros do exterior alemão (Ribbentrop) e soviético (Molotov) assinaram um pacto de não-agressão entre os dois países, que incluía um tratado secreto que dividia o Leste da Europa pelas duas potências.

O exército alemão entrou na Polónia com uma lista de 61.000 nomes de pessoas que deviam ser assassinadas. A lista já estava a ser preparada desde Maio desse ano pelos serviços secretos alemães, em colaboração com alemães residentes na Polónia. O assassinato premeditado daqueles professores, médicos, juristas, académicos, padres e bispos católicos, representantes dos partidos e dos sindicatos, entre outros, tinha como objectivo decapitar o país e deixar a população inteiramente desorientada.

Pensava que nunca mais o mundo veria nada de semelhante. Mas leio o discurso de Hitler (de que passo a seguir uma tradução sofrível) e sinto como o seu eco ressoa em tantos fenómenos e discursos que ouvimos hoje em dia: a auto vitimização, a invenção de ameaças externas para justificar a necessidade de nos unirmos contra esse inimigo, o apelo ao heroísmo, a justificação do #belicismo argumentando que os esforços diplomáticos foram gorados e que o país tem de se defender.

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Discurso de Hitler em 1.9.1939, publicado no Portal da História:


Delegados, homens do Reichtag alemão!
Durante meses, temos sido atormentados por um problema que nos foi forçado pela imposição (diktat) de Versalhes e que, devido à escalada e à deterioração da situação, se tornou, agora, absolutamente intolerável.
Danzig [Gdansk] foi e é uma cidade alemã! O corredor era e é alemão! Todos estes territórios devem o seu desenvolvimento cultural exclusivamente ao povo alemão, sem os quais a barbárie absoluta reinaria naqueles territórios orientais. Danzig foi separada de nós! O corredor foi anexado pela Polónia! As minorias alemãs que lá vivem foram maltratadas da maneira mais cruel. Já nos anos de 1919-1920 mais de um milhão de pessoas de sangue alemão foram expulsas de suas casas. Como de costume, tentei alterar esta situação intolerável através de propostas de mudança pacíficas. É mentira, se em todo o mundo se disser que nós conseguimos as nossas propostas de mudança exercendo unicamente pressão. Houve muitas oportunidades, quinze anos antes de o Nacional-Socialismo assumir o poder, de se realizarem modificações por via pacífica.
Isso não foi feito. Em cada caso específico, tomei na altura devida a iniciativa, não uma mas muitas vezes, de apresentar propostas de mudança de condições absolutamente intoleráveis... Uma coisa, porém, é impossível: a exigência de que uma mudança pacífica possa ser feita a partir de uma situação intolerável, e depois recusar-se obstinadamente a tal revisão pacífica. É igualmente impossível afirmar que, em tal situação, actuar de acordo com a nossa iniciativa de fazer a mudança é violar a lei.

Para nós, alemães, o diktat de Versalhes não é uma lei. Não se pode aceitar que alguém seja forçado, com uma pistola apontada e ameaçando matar à fome milhões de pessoas, a assinar um documento e depois proclamar que o documento com sua assinatura forçada seja uma lei solene...
Embora estivesse profundamente convencido de que o governo polaco - possivelmente devido à sua dependência de um grupo de militares descontrolados e traiçoeiros - não estava seriamente interessado em realizar um verdadeiro acordo, eu, no entanto, aceitei a proposta do governo britânico de mediação.
Estes afirmaram que não seriam eles próprios a continuar as negociações, mas garantiram-me que iriam estabelecer contactos directos com a Polónia e a Alemanha, para conseguirem que as negociações retomassem de novo. Devo declarar o seguinte: aceitei esta proposta. Para estas conversas elaborei os princípios que são conhecidos por todos! Então, eu e o meu governo esperámos dois dias completos à espera que o governo polaco se decidisse finalmente a enviar ou não um plenipotenciário! Até à noite passada não enviou nenhum plenipotenciário, mas informou-nos, através do seu embaixador que, naquele momento, estava a considerar a questão de saber se e em que medida poderia aceitar as propostas britânicas. E que informaria a Inglaterra da sua decisão.
Membros do Reichstag! Se este tratamento pode ser dispensado ao Reich alemão e ao
seu chefe de Estado, e o Reich alemão e o seu chefe de Estado se submetessem a este tratamento, então o povo alemão não merecia mais do que desaparecer da cena política! As minhas propostas de paz e a minha infinita paciência não devem ser confundidas com fraqueza, muito menos com cobardia! Portanto, informei a noite passada o governo britânico de que, estando as coisas como estão, não me tinha apercebido de qualquer interesse do governo polaco em entrar em  conversações sérias connosco.

Tendo estas propostas de mediação fracassado, as respostas a estas propostas foram, entretanto, em primeiro lugar, a ordem de mobilização geral dos polacos e, em segundo lugar, novas e graves atrocidades. Estes incidentes voltaram novamente esta noite. Depois de terem ocorrido recentemente vinte um incidentes de fronteira houve mais catorze a noite passada, três deles muito graves. Por esta razão, decidi utilizar com a Polónia o mesmo tipo de linguagem que a Polónia tem vindo a utilizar connosco há meses.
Se houver governantes no Ocidente que declararem que os seus interesses estão envolvidos, só posso lamentar essa declaração, no entanto, isso não me conseguirá convencer a desviar-me um minuto que seja do cumprimento das minhas obrigações...
Estou feliz por puder informá-los aqui de um acontecimento de especial importância. Estais ciente de que a Rússia e a Alemanha são governadas por duas doutrinas diferentes. Havia apenas uma pergunta que tinha que ser esclarecida: a Alemanha não tem nenhuma intenção de exportar a sua doutrina e, a partir do momento que a Rússia não tiver intenção de exportar a sua para a Alemanha, não vejo nenhuma razão pela qual devemos ser de novo adversários! Estamos ambos de acordo sobre este ponto: a luta entre os nossos dois povos só seria útil a outros. Por isso, resolvemos estabelecer um acordo que exclui, no futuro, qualquer utilização da força entre nós, que nos obriga a consultarmo-nos mutuamente sobre certas questões europeias, torna possível a cooperação económica e, sobretudo, garante que estas duas grandes potências não esgotarão as suas energias na luta uma contra a outra. Qualquer tentativa por parte das potências ocidentais em alterar estes factos falhará, e, neste contexto, gostaria de dar as seguintes garantias: esta decisão política significa uma enorme mudança para o futuro e é absolutamente final!

Acredito que todo o povo alemão saudará esta atitude política! Na Guerra Mundial, a Rússia e a Alemanha lutaram entre si e, em última análise, os dois países foram os únicos a sofrer. Isso não deve acontecer uma segunda vez! O pacto de não-agressão e de consulta, que já entrou em vigor após a sua assinatura, foi ontem ratificada em Moscovo e Berlim. Em Moscovo, o pacto foi saudado como o foi aqui. Concordo com cada palavra do discurso feito pelo Sr. Molotov, o comissário russo dos Negócios Estrangeiros.
Os nossos objectivos: 
Estou determinado - em primeiro lugar, em resolver a questão de Danzig, em segundo lugar, a questão do Corredor; e terceiro, a ver se ocorre uma mudança nas relações da Alemanha com a Polónia, que assegure uma coexistência pacífica entre os dois países. Estou determinado a lutar até que o actual governo polaco esteja disposto a realizar esta mudança ou que qualquer outro governo polaco o esteja disposto a fazer. Quero remover da fronteira alemã o elemento de insegurança, o clima permanente que se assemelha a uma guerra civil. Vou fazer com que a paz na fronteira oriental seja a mesma que existe nas nossas outras fronteiras. Quero realizar as acções necessárias de modo a que elas não contradigam, membros do Reichstag, as propostas que vos dei a conhecer aqui, assim como as minhas propostas para o resto do mundo. Isso quer dizer que eu não quero travar uma guerra contra mulheres e crianças. Instruí a minha força aérea para limitar os seus ataques a objectivos militares. No entanto, se o inimigo concluir que pode fazer a guerra de maneira diferente, terá uma resposta que o vai por fora de sim!
Ontem à noite, pela primeira vez soldados regulares do Exército Polaco dispararam em direcção ao nosso território. Desde as cinco horas e quarenta e cinco minutos que respondemos ao fogo! De agora em diante cada bomba será respondida com outra bomba! Quem luta com gás venenoso será combatido com gás venenoso. Quem desrespeita as regras da guerra humana, pode estar seguro que faremos o mesmo. Vou continuar essa luta, não importa contra quem, até ao momento em que a segurança do Reich e os seus direitos estejam garantidos!
Há mais de seis anos que tenho estado envolvido na criação das Forças Armadas Alemãs.
Durante este período, mais de 90.000 milhões de Reichsmark foram gastos na criação da Wehrmacht. Hoje as nossas forças armadas são as melhor equipadas do mundo, e são muito superiores às de 1914. A minha confiança nelas não será abalada nunca.
Se mobilizo a Wehrmacht e peço sacrifícios ao povo alemão, e, se for necessário, sacrifícios ilimitados, é porque tenho o direito de o fazer, porque eu estou tão pronto hoje como estive no passado a realizar os os sacrifício pessoais que for necessário fazer. Não peço nada aos alemães que eu próprio não estivesse preparado para fazer a qualquer momento, durante mais de quatro anos. Não haverá privações para os alemães que eu não partilhe imediatamente. A partir deste momento toda a minha vida pertence mais do que nunca ao meu povo. Agora, não quero ser mais nada, do que o primeiro soldado do Reich alemão.
Assim, enverguei mais uma vez o uniforme que sempre foi para mim o mais querido e sagrado. Só o porei de lado com a vitória - ou não viverei para ver o fim!
Se nesta guerra alguma coisa me acontecer, o meu primeiro sucessor será o membro do Partido Goering. Se algo acontecer ao membro do Partido Goering, o seu sucessor será o membro do Partido Hess. A estes homens, enquanto vossos dirigentes, deverão a mesma lealdade e obediência absoluta que me devem a mim. No caso de algo poder acontecer também ao membro do Partido Hess, tomarei providências legais para a convocação de um senado que elegerá, então, o mais digno, isto é, o mais valente, do seu seio!
Como nacional-socialista e soldado alemão entro nesta luta com um coração forte! Toda a minha vida foi uma luta permanente pela minha nação, para a sua ressurreição, para a Alemanha, e toda esta luta foi inspirada por uma única convicção: a fé neste povo! Uma palavra eu nunca conheci: capitulação. E se alguém pensa que vem aí tempos difíceis gostaria de recordar-lhe o facto de que há tempos um rei da Prússia com um Estado ridiculamente pequeno, enfrentou uma das maiores alianças que alguma vez existiu e saiu vitorioso após três campanhas, porque possuía uma fé forte e firme que nós nestes tempos, também temos necessidade de ter . Quanto ao resto do mundo,  quero assegurar: Novembro de 1918 não acontecerá novamente na história alemã. Assim como eu estou preparado para arriscar, a qualquer momento, a vida pelo meu povo e pela Alemanha, exijo o mesmo de todo a gente!
Quem acreditar que tem uma hipótese de fugir, directa ou indirectamente, a este dever patriótico morrerá.

Não queremos traidores. Estamos a agir unicamente de acordo com o nosso velho princípio: a nossa própria vida nada importa, o que importa é que o nosso povo, que a Alemanha viva...
Concluo com as palavras com as quais comecei a minha luta pelo poder no Reich.
Naquela época afirmei: 
"Se a nossa vontade for tão forte que não consiga ser quebrada por qualquer sofrimento, então a nossa vontade e o nosso aço alemão também serão capazes de dominar e conquistar o sofrimento". 
Alemanha - Sieg Heil!

Fonte:
Roderik Stackelberg e Sally A. Winkle, The Nazi Germany Sourcebook - An Anthology of Texts, Londres e Nova Iorque, Routledge, 2002, págs. 254-257.
Tradução:
Manuel Amaral

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