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03 julho 2019

testemunhas de Jeová

Os comentários que vou lendo aqui e ali denotando anticorpos em relação ao congresso internacional das Testemunhas de Jeová em Lisboa lembram-me de novo porque é que gosto tanto de Berlim.

Há alguns anos, esse congresso decorreu aqui. Os metros encheram-se de mulheres e de homens vestidos de uma forma que os fazia parecer saídos de uma realidade paralela (nada de realmente grave: apenas o comprimento das saias e dos vestidos muito compostinhos, o aprumo dos fatos masculinos) e que sorriam imenso. Pareciam sinceramente felizes e aliviados por serem tantos, por se sentirem tão acompanhados e fortes. Uma espécie de Pride Parade, mas em discreto e sóbrio, nas carruagens do metro.

Os berlinenses faziam o que fazem sempre: olhavam, registavam, e continuavam na sua vidinha.
Berlim é esta cidade onde há espaço para todos - e o que eu gosto dela justamente por causa disso!

Também tenho os meus anticorpos contra as Testemunhas de Jeová. Irrita-me a intrusão no meu espaço doméstico ou mesmo a exibição persistente e muda nas ruas, incomoda-me a estratégia de missionário que apregoa o fim do mundo para melhor vender o seu peixe, e tenho sérias objecções à proibição de fazer transfusões de sangue que pode decidir sobre a vida ou a morte - particularmente quando são os pais que decidem sobre a vida de um filho menor.

Mas depois lembro-me de Buchenwald, onde morreram tantos homens por se recusarem a fazer a guerra de Hitler. E lembro-me de Auschwitz, e do ambiente diferente que havia na barraca onde tinham enfiado esses objectores de consciência: a cara de espanto, o mal-estar dos guardas que vinham fazer a selecção para a câmara de gás, e eram recebidos com exclamações de alegria, porque traziam aos felizes escolhidos a bênção de uma rápida passagem para o ansiado paraíso: "o meu reino não é deste mundo". Naquele tempo, não era qualquer um que conseguia rebentar toda a lógica do sistema de terror e confrontar um SS de Auschwitz de uma forma que o deixava totalmente desarmado.

Não é o meu mundo, e não é com certeza a minha fé e a minha maneira de estar na fé.
Mas faz pensar. E quanto mais não fosse por isso, merece o nosso respeito.

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