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09 abril 2014

pátria e memória

Isto é o mundo ao contrário: os portugueses chegaram bem antes da hora marcada, e a alemã que nos ia acompanhar na biblioteca chegou tardíssimo. Por sorte a Alemanha já não é o que era: na portaria enganaram-se, e pensaram que nós éramos outro grupo. Chamaram o técnico preparado para os outros, e ele levou-nos para dentro da sala, onde foi possível começar logo a preparar tudo.
Passei a manhã fascinada a olhar para antiquíssimos livros arménios. Este povo, há mil anos em crise - invasões, guerras, perda do Estado, perseguições e massacres -, habituou-se a viver em estado de permanente alerta. Num mundo em que era preciso estar pronto a fugir, os livros tornaram-se a pátria transportável e o repositório da memória. 
Podia contar mais, mas depois vocês não viam o filme. 

Amanhã vão-me filmar a mim. Se alguém tiver o número de telefone da Meryl Streep, e mo der imediatamente, agradeço. Era só para lhe pedir umas dicas, porque estou ligeiramente apreensiva.









Depois da biblioteca fomos entrevistar um professor, que se recusou a ir ao lugar que tínhamos previsto. Estava na Universidade, do outro lado da cidade, disse que o fôssemos entrevistar lá. Universidade? Aquele edifício barulhento e sem charme? E como conseguir autorização para filmar no próprio dia? Só problemas. Já queria desistir da entrevista, quando me lembrei de um restaurante engraçado que tem lá perto. E então aconteceu um milagre: deixaram-nos filmar sem levantar qualquer problema, as pessoas que queriam sentar-se por ali aceitaram ir para outras salas, e um empregado até limpou os vidros dos espelhos para sair tudo óptimo na fotografia.



A caminho de casa, o sol encontrou uma fresta por entre as nuvens carregadas, e transformou a minha rua. Deixo aqui uma fotografia que - não sendo tão mágica como o momento - ajuda a fazer deste blogue pátria e memória pessoal.



13 comentários:

  1. Não é para puxar a brasa à nossa sardinha, é mesmo só para informar, caso não saibas, que o Museu Gulbenkian também tem uns livros arménios lindos.

    (Cheira-me que "Arménia" tem tudo para ir à Berlinale 2015.)

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  2. E o Matenadaran, em Yerevan: nem queiras saber!
    Impressionante: para além das iluminuras e das capas muito belas, tem uma série de livros importantíssimos para a história mundial: são as traduções arménias de textos da Antiguidade cujo original desapareceu.
    Uma pessoa anda por ali e sente-se o Ali Babá na caverna das preciosidades.

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  3. http://museu.gulbenkian.pt/Museu/pt/Colecao/ArteArmenia

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  4. Quanto à Berlinale: Man soll den Tag nicht vor dem Abend loben...
    :)

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  5. Que maravilhas, Paulo!
    Mas olha: clica nas fotografias que eu ali deixei. Viste as caras todas?

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  6. Acho que vi, mas só reconheci o Ricardo.

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  7. "Man soll den Tag nicht vor dem Abend loben"

    Tradução para os não-germanófonos:
    "Não ponhas o carro à frente dos bois"

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  8. Oh, que disparate o meu! Estava a falar daquele desenho no livro, em que enchem os ornamentos com caras.
    :)

    Obrigada pela tradução.
    Acrescento a tradução literal, que é muito gira: não louves o dia antes do anoitecer.

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  9. Ah, essas também tinha visto.

    :-)

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  10. Dos exemplares fotografados alguns mostram acentuada(?) degradação.
    Dada a sua importância irão ser restaurados?

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  11. São restaurados com certeza (não nos mostraram um, importantíssimo, porque estava a ser restaurado). Mas a responsável da biblioteca também comentou muitas vezes: "este livro foi muito usado". Pergunto (porque não percebo nada disso): também se restauram e limpam os vestígios das gerações que usaram um objecto? Eu gostei de ver todos aqueles sinais de uso.

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  12. Estava para deixar aqui o nº do telemóvel da minha artista de cinema de eleição mas a Meryl pediu-me para o não fazer porque sabe que o seu brilho esmorecerá assim que a estrela Araújo brilhar.

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  13. hahahaha
    Pois é, acho muito bem que ela se ponha de sobreaviso, que aqui a concorrência não dorme.
    ;-)

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