03 março 2012

mundos outros


No domingo passado fomos a uma feira de vinhos, e como a sorte continua apaixonada por mim (garanto que não sei como é que estas coisas me acontecem!) não demorou muito até nos vermos sentados à mesa de um stand de vinhos franceses, com um pratinho de Pata Negra bem cortado e algumas garrafas de Bordéus e Borgonha que andavam entre os 80 e os 180 euros cada uma. É que se não tivesse estado lá, não acreditava.
Eu pensava que não saberia distinguir entre vinhos de, digamos, vinte euros, e vinhos de duzentos. Mas se calhar sei: quando é extraordinariamente equilibrado, quando parece que não pode ter passado pela terra, nem pelo lagar, nem pelas barricas (mas, atenção, não estou a falar daquelas beberagens tecnicamente perfeitas que eles inventam para os lados de Napa e Sonoma), em suma: quando é um vinho que parece que não é deste mundo, pode ser que seja um desses mesmo bons.

A sorte? Deu-lhe paixão assolapada! No fim da feira, ofereceram-nos todas as garrafas abertas. Trouxemos para casa três caixas com restos e restinhos, e também garrafas quase cheias de alguns dos vinhos mais preciosos. Como já estão abertas, tivemos que as aviar e a eito, começando pelo mais caro. Foi uma semana de stress, mas nós não viramos as costas aos desafios...

A sorte, dizia eu? Hoje assisti a um ensaio do RIAS, para o concerto de amanhã. Cantam a capella, e é um concerto lindo. Tal como aquele vinho de duzentos euros: não é bem deste mundo.



i thank You God for most this amazing
day:for the leaping greenly spirits of trees
and a blue true dream of sky; and for everything
which is natural which is infinite which is yes

(i who have died am alive again today,
and this is the sun's birthday; this is the birth
day of life and of love and wings: and of the gay
great happening illimitably earth)

how should tasting touching hearing seeing
breathing any--lifted from the no
of all nothing--human merely being
doubt unimaginable You?

(now the ears of my ears awake and
now the eyes of my eyes are opened)


e. e. cummings

4 comentários:

sem-se-ver disse...

aqui a je está mt arrepiadinha com o tubio.

sem-se-ver disse...

vou levar

Paulo disse...

Se tivesses dito antes que estavas tão stressada e a precisar tanto de ajuda...

(Que bonita a música. Imagino-a cantada pelo RIAS.)

Helena Araújo disse...

Paulo e sem-se-ver,
é nestes momentos, especialmente nestes momentos, que tenho muita pena que vocês não estejam aqui. Isto queria-se partilhado convosco!

Fui ver se o concerto é transmitido pela rádio, como da outra vez quando passaram o requiem do Mansurian, mas não, não o encontrei. Pena. Tenho a certeza que vocês iam adorar. E mais ainda se estivessem naquela sala, e fossem levados pelo som como algas na corrente da água.