23 abril 2022

a queda das máscaras

 

Oh pá, a sério!
Aqui a artista tem andado a ler nas redes sociais menções à "queda das máscaras" e pensava que se referiam à posição do PCP sobre a Ucrânia...
(Esta minha tendência natural de tirar pelo sentido ainda vai acabar mal)

Agora mesmo a sério, para acabar de vez com os exercícios de retórica:
Se Cuba decidisse aliar-se a um inimigo dos EUA, e o exército norte-americano invadisse Cuba, destruísse as suas cidades, fizesse tiro ao alvo à população e violasse as suas mulheres e crianças, eu gritaria muito alto contra os EUA.
Se a Coreia do Sul dissesse que se sentia ameaçada pela Coreia do Norte e invadisse esse país, destruísse as suas cidades, fizesse tiro ao alvo à população e violasse as suas mulheres e crianças, eu gritaria muito alto contra a Coreia do Sul.
Não me interessa se os invasores tinham razão para ter medo, não me interessa se os governantes dos países invadidos são ditadores. É tão simples como isto: nenhum país pode invadir outro país, destruir as suas cidades, fazer tiro ao alvo contra os civis e violar as suas mulheres e crianças.


2 comentários:

Jaime Santos disse...

O regime ucraniano está longe de ser uma democracia nos padrões ocidentais (embora provavelmente leve a palma à Hungria ou à Polónia, membros da UE) mas não existia qualquer possibilidade de uma adesão próxima da Ucrânia à NATO, a ideia de que havia um genocídio contra as populações russófonas do Donbass é delirante (a guerra desde 2014 provocou mais de 14.000 vítimas de parte a parte, mas um conflito cruel não se transforma num genocídio só porque Putin quer) e a tese das armas biológicas seletivas contra grupos étnicos específicos é tão demente que faria corar Trofim Lysenko de inveja (quem se lembrou disso não percebe que um grupo étnico é uma construção cultural, sem significado para a genética).

Por isso não existe de facto qualquer casus belli para a invasão da Ucrânia. Mas mesmo que existisse, isso não justificaria por si só uma ação unilateral (ainda por cima desta magnitude, leia-se uma invasão geral da Ucrânia com a sua litania de tragédias) por parte da Rússia.

Apraz-me (estou a ser irónico) ver a consistente hipocrisia dos comunistas, que agora dão cobertura a uma guerra supostamente preventiva, o mesmo tipo de ação conduzida pelos EUA em 2003 contra o Iraque (e aí os americanos podiam dizer com toda a certeza que Saddam era um tirano sanguinário que tinha usado ADM contra o seu próprio povo, o que ainda assim não justificaria a invasão).

Não é nada de novo, apoiaram a URSS quando esta fez um pacto com Hitler e depois quando reprimiu a revolta em Berlim em 1953 ou as invasões da Hungria, Checoslováquia ou Afeganistão. Só é novo o facto de agora debitarem a cartilha de um ditador que está ao leme de um regime cleptocrata, próximo do fascismo (mas a bem ver, também apoiam a China, que não anda muito longe disso)...

Mas a revelação do plano russo de unir o Donbass à Crimeia e ao Sul da Ucrânia até à Transnístria mostra bem que esta guerra sempre foi uma guerra de conquista imperial, como resultava aliás claro das diferentes intervenções de Putin (verdadeiros discursos de sangue e solo).

E nem uma palavra do PCP contra o belicismo de toda esta empresa.

Parece-me pelo menos que existe um aspeto em que a Esquerda cresceu, os seus intelectuais leram Orwell e já não são capazes de prestar o serviço aos comunistas de defenderem o indefensável como nos tempos de Estaline.

O PCP está pois condenado a tornar-se um grupúsculo cada vez mais pequeno e virado para dentro, corroído pela paranoia e pela mentalidade de cerco, tal qual um qualquer culto religioso. Assim, muito dificilmente será útil para a classe que diz ser a sua base.

É trágico que o principal resistente à ditadura acabe assim, mas o maquiavelismo político está na massa do sangue dos comunistas, aliás Marx já dizia que a moral é uma coisa de classe.

Ora, se assim o é, pode ser deitada ao lixo a bem da construção da sociedades sem classes... Os fins justificam os meios...

Ser-se de Esquerda quer dizer duas coisas, defender um conjunto de valores entre os quais a autodeterminação dos povos, a paz, a liberdade e a justiça social e defender o princípio da universalidade, o que é válido para nós é válido para os outros...

E o PCP esquece frequentemente esta segunda condição...

Petrus Monte Real disse...

Bem observado!
Eu também não percebo as razões invocadaas para a invasão! Muito menos se percebe se pensarmos que, a haver algum incumprimento por parte dos dos países envolvidos, só a Rússia é que se encontra numa situação de falta (relativamente ao Acordo de 1994, em Budapeste, no âmbito do qual a Ucrânia se comprometeu a aderir ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares e a devolver a Moscovo as ogivas existentes no seu território, em troca da garantia da territorialidade da Ucrânia).
Está-se a ver quem é que prevaricou!? Mas, enfim, vindo de Putin, o Mentiroso, tudo é possível!
Só espero que o Mundo continue a ajudar a vítima desta guerra