08 maio 2020

"dia da libertação"

 (Foto: imago images/Everett Collection, aqui)

(Foto: Imago/ITAR-TASS)


O tema de hoje na Enciclopédia Ilustrada foi o "dia da libertação":



Numa aula de U.S. Citizenship em San Francisco, o professor perguntou:
- Quando começou a segunda guerra mundial?
Os alunos, muitos deles russos e polacos, responderam em coro:
- 1 de Setembro de 1939!
O professor riu-se.
- Isso é a vossa guerra europeia. A mundial começou em 1941, quando os EUA entraram.
Os alunos europeus riram-se:
- Os americanos, sempre com a mania que são o centro do mundo.
- E quando terminou a segunda guerra mundial?, perguntou o professor.
- 8 de Maio de 1945!, responderam os alunos de novo em coro.
O professor riu-se:
- Estes europeus, com a mania que são o centro do mundo... A guerra terminou na Europa nesse dia, mas continuou no Japão. Só terminou em Setembro desse ano.

Em inglês, chamam ao dia 8 de Maio de 1945 o "dia da vitória na Europa". Na Alemanha oriental chamavam-lhe #dia_da_libertação, embora - parece-me - se devesse antes chamar "dia da troca" - a passagem do totalitarismo nazi para o totalitarismo de Estaline.

Na Alemanha ocidental foi preciso algum tempo para passar de "dia da capitulação" para "dia da libertação". Durante duas décadas a Política tentou ignorar este dia. Em 1970, quando se comemoravam 25 anos do fim da guerra, o governo socialista de Willy Brandt assinalou a data com uma cerimónia, tendo sido muito criticado por deputados da oposição (CDU/CSU) que argumentavam que "não se comemoram derrotas" e "não se presta homenagem à vergonha e à culpa".

Só no 40º aniversário do fim da guerra é que foi possível o então presidente da República, Richard von Weizsäcker, afirmar que naquela data se comemora o "dia da libertação do sistema desumano do despotismo nacional-socialista".

Que longo caminho foi o percorrido pela sociedade alemã nesses 40 anos, que permitiu passar da ideia de derrota para a de libertação!

Por estes dias, a morar na Bretanha, tenho-me dado conta de um detalhe curioso: nesta região de importância estratégica fundamental, que foi tão martirizada pelo exército alemão, nos vestígios que ficaram da guerra não se menciona nunca "alemães" ou "Alemanha", mas "inimigo". A placa na torre perto do porto lembra a vitória "sobre o inimigo", a placa na prisão da minha rua, de onde, pouco antes do fim da guerra, levaram os prisioneiros que eram membros da Resistência para serem executados, diz "partiram para o seu trágico destino", e até o meu "anti-guia bretão" fala de um menir de sete metros numa ilhota aqui perto, que foi dinamitado "por estranhas convicções nacionalistas".

Esta manhã hesitei um pouco sobre o nome a dar ao tema do dia. Escolhi "dia da libertação" porque as palavras contam. As palavras têm o poder de construir ou pelo menos cimentar os caminhos da paz.


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