17 março 2020

o primeiro dia dos próximos quinze

Ontem, às oito da noite, o presidente Macron anunciou que estamos em guerra contra esta doença, e que para isso temos de permanecer unidos mas separados: cada um em sua casa. Disse seis vezes "nous sommes en guerre". Se calhar cinco também tinha bastado. Mas o resto do discurso foi bom - elogiando o trabalho das pessoas que trabalham na saúde, anunciando regras, precauções, medidas para reduzir a angústia das pessoas e das empresas.

A França está em casa desde hoje ao meio-dia.

Ora bem, digam-me cá: quando têm de ficar em casa, e sabem que o resto do mundo também tem de ficar em casa, vestem-se como se fossem sair? Eu não. Fiquei em pijama a resolver confortavelmente as primeiras urgências do dia. Por volta das dez da manhã bateram à porta, e era o senhorio que queria falar sobre a nossa mudança para a próxima casa, daqui a duas semanas.

Caramba, não podia ser mais papista que o papa, e começar o recolher obrigatório logo de manhã, como os outros todos?! Humpf!

O nosso senhorio também pensa que estes 15 dias anunciados são apenas o princípio. Estamos sem saber se será possível mudar de casa quando a ordem é para não sair dela.

Mas isso é algo que só vai acontecer daqui a duas semanas, nem vale a pena pensar muito. Entretanto aprendi que só me preocupo com as preocupações de cada dia, porque as coisas começaram a acontecer demasiado depressa, e num instante acontece algo que arruma com as nossas certezas e os planos que tínhamos feito.

Um dia de cada vez. Mas pelo sim pelo não vou evitar ficar de pijama até ao meio-dia.

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Já são seis da tarde, e não sei dizer o que fiz hoje. Parece-me pouquíssimo para tanto tempo. Sinto-me lenta, apática, quase paralisada.

Vou levar o lixo à rua, para animar um bocadinho.


2 comentários:

Helena Monteiro disse...

Eu arranjo-me muito bem, como se fosse encontrar imensa gente. Ajuda. Não me sinto a parar. (Mesmo quando paro e não faço grande coisa).

jj.amarante disse...

A "guerra" tem duas analogias com esta situação: o número de mortes que causa que, por exemplo na gripe de 1918, causou mais mortes do que a guerra que tinha acabado e a estrutura organizativa mais adequada para o momento: uma organização hierarquizada com as características da usada com sucesso nas guerras.
A China tradicionalmente com um imperador, obteve grandes melhorias quando se abriu à organização descentralizada dos mercados, o Ocidente, durante esta pandemia ganha em adoptar temporariamente uma organização mais centralizada.
Boa saúde!