06 novembro 2019

ó tempo, não voltes para trás!

Quando li a tristemente famosa carta do Manuel Bourbon Ribeiro ao país dele, estaquei logo no princípio, naquela saudade do tempo em que Portugal era grande.

O que é válido para nós também deve ser válido para os outros, certo?

Será que o autor deste texto, que se queixa a Portugal dizendo-lhe "o mundo já não fala a tua língua e já não tens qualquer influência nas políticas internacionais. Já não és o centro do comércio", reconhece igual direito a alguém em Damasco ter saudades do império que chegava até Al-Andaluz, de alguém em Roma ter saudades do tempo em que o seu país ia até à Lusitania, de alguém no meio das estepes sonhar com nova expansão do território dos hunos? E será que coloca a possibilidade de outros países - a China, por exemplo - dizerem "vocês já tiveram o vosso quinhão de imperalismo, agora é a nossa vez!".

Não tenho saudades do tempo em que Portugal "era grande", porque Portugal é grande.
Portugal é enorme.
Depois do 25 de Abril, o meu país fez um percurso extraordinário. O país paupérrimo que conheci em criança deu lugar a um dos países com mais qualidade de vida do mundo. O povo português tem muitos motivos para se orgulhar do país que tem sabido construir.

Não é perfeito, como nenhum país é perfeito, mas vamos fazendo o nosso caminho com dignidade.

Esperemos que no Médio Oriente, em Roma e nas estepes russas não haja muitos jovens saudosistas à maneira de Manuel Bourbon Ribeiro. E que os novos impérios não se criem à semelhança do "saudoso" império português.


2 comentários:

Catarina disse...

O menino é ainda imberbe.

Acabei de ler porfalafnoutracoisa.sapo.pt. "review à carta aberta...".

Vale a pena ler. Está o máximo!

Jaime Santos disse...

Dizia Churchill, creio, ele que era um imperialista de 4 costados, que os Impérios do futuro eram os Impérios do Espírito. Olhando para a nossa imensa Literatura, Música Popular, mas também para o que vamos fazendo na Ciência ou no Desporto (onde se incluem o Eusébio e o Ronaldo, pois claro), que vamos bem a caminho de construir, com muitos outros povos, um pedaço desse Império.

Embora, como diga, o mais importante não seja isso, simplesmente o facto de nos termos tornado de um País miserável numa sociedade razoavelmente decente em pouco mais de 40 anos. Nada mau.

Quanto ao Bourbon, in nomen, omen. Dizia alguém dos seus homónimos após a restauração que não tinham esquecido nada e que não tinham aprendido nada...