10 julho 2018

"o mais recente espasmo de xenofobia"

Sinceramente, não entendo o problema deste editorial no Guardian sobre as medidas do governo dinamarquês para promover a melhor integração dos imigrantes. À excepção da segunda medida na lista, todas as outras me parecem normais e aceitáveis. Vejamos:

1. Forcing immigrants to put their children into daycare for 25 hours a week from the age of one;
Conheço os argumentos a favor desta medida na Alemanha: as crianças que não sabem alemão têm péssimas condições de partida para a escola e o futuro profissional. Para permitir que elas consigam escapar a um contexto social que as condena à falta de perspectivas e à pobreza, para permitir que elas consigam um lugar ao sol na sociedade onde nasceram, é fundamental que aprendam alemão desde muito cedo.

2. automatically doubling the sentences for crimes committed in ghetto areas;
A ser verdade, é gravíssimo, porque fere o princípio básico da igualdade perante a Lei. 

3. threatening long fines or even prison sentences for anyone who fails to report parents suspected of hitting their children;
Se a lei é igual para todos, não entendo o motivo para escândalo. Se na Dinamarca é proibido bater em crianças, não pode haver tolerância devido à chamada diferença de culturas. As regras são iguais para todos, e não se pode permitir que dentro de grupos culturalmente mais fechados haja cumplicidade e silêncio perante actos de violência condenados pela sociedade em que vivem. Na Alemanha houve há anos um caso de tolerância desse género que foi muito criticado: um juiz não protegeu convenientemente uma mulher em processo de divórcio, que temia ser alvo de violência doméstica por parte do marido, alegando que isso fazia parte da cultura dela. (Escusam de bater, o juiz foi muito criticado. Entretanto a sociedade aprendeu, e já não é assim "tolerante" em relação a estas "diferenças culturais".)

4. setting quotas on kindergartens so that they can have no more than 30% of their children from immigrant backgrounds.
Esta aqui é um caso de óbvio ululante. Para que os filhos dos estrangeiros possam aprender bem dinamarquês, tem de haver no grupo uma larga maioria de crianças de língua materna dinamarquesa. 

Se me deixassem mandar, até ia mais longe: não pode haver mais do que 20% ou 30% de estrangeiros em cada rua, escola, bairro, aldeia, cidade. E tem de haver quotas para imigrantes nas escolas e nos bairros.

Convém ainda lembrar que no tempo em que não havia cá esses chamados "espasmos de xenofobia" foi naquelas décadas em que ninguém se preocupou com a integração dos imigrantes, porque se pensava que eram apenas mão-de-obra que vinha desempenhar certas tarefas e depois voltava para o seu país. Essa é a verdadeira xenofobia: ignorar a existência e as dificuldades das pessoas, recusar-lhes o "nós", vê-las apenas como factores de produção importados temporariamente para permitir o crescimento económico, e que serão devolvidos à proveniência quando já não forem necessários.


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