21 outubro 2017

sobre o uso do "je suis"

Esta manhã um homem andou em Munique a atacar pessoas com uma faca. Esfaqueava, fugia de bicicleta para outra zona, esfaqueava, fugia de novo. Atacou em seis locais diferentes, feriu cinco pessoas. Como é um alemão, daqueles loiros e tudo - enfim, aquilo a que noutros tempos se chamava "ariano" - este ataque não se presta a parangonas, a comoções e a manifestações de solidariedade.

Pergunto: se o atacante fosse um refugiado, como estariam neste momento os sites noticiosos e como estariam as redes sociais? Aposto com quem quiser: a notícia vinha no topo dos sites, e as redes sociais iam ter um sobressalto de "je suis Munique", ou algo do género. O pessoal xenófobo ia passar as notícias com comentários a gozar: "olha, outro refugiado coitadinho que precisa de tratamento psicológico".

Fica o apontamento, para uso futuro: porque é que a violência cometida pelos "nossos" não tem o mesmo destaque que a violência cometida pelos "outros"? Porque é que nós nos mostramos muito mais chocados e solidários quando o atacante é estrangeiro ou filho de estrangeiros? Porque é que um loiro que anda na rua a esfaquear pessoas é uma pessoa com problemas psíquicos (e este é, as notícias alemãs mencionam algo nessa direcção) e um gajo de pele mais trigueira que faça o mesmo é "naturalmente" um terrorista?

Mais ainda: se as ondas de "je suis" são gestos de solidariedade para com as vítimas, porque é que não há "je suis" quando o atacante é "um dos nossos"?  



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