24 outubro 2017

à mercê de gente boçal



Estamos num país da União Europeia em 2017, e dois juízes usam o Antigo Testamento e leis portuguesas revogadas no séc. XIX para "acentuar que o adultério da mulher é uma conduta que a sociedade sempre condenou e condena fortemente (e são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras) e por isso vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher” (texto completo aqui)


Nada como os valores de antigamente, nos bons velhos tempos, quando a sociedade ainda não tinha sido conspurcada pelo relativismo e pelos lobbies das poucas-vergonhas.

Nada como ir aprender com os clássicos. Como neste quadro de Lucas Cranach, o velho, que está no Museu do Palácio de Weimar. O homem viveu há 500 anos, e já nessa altura estava mais avançado em termos de valores cristãos e humanistas que agora os meritíssimos Juízes daquele tribunal do Porto. Reparem bem: não é só o ar sereno e compassivo de Jesus Cristo, não é só a sua mão a segurar a mão da mulher acusada. É, sobretudo, o ar boçal, bruto, frio, torpe, maldoso de quem acusa. Cranach tinha uma fantástica capacidade para estampar a estupidez e o ódio na cara dos defensores da Lei, da Ordem e da Moral.






O que mais me impressiona nas interpretações que Cranach faz dos temas bíblicos é o retrato do mal que habita o ser humano. Como se pode ver nestas imagens, que fotografei (com péssima luz) na colecção de cenas da Via Sacra, no Jagdschloß de Grunewald em Berlim.






Nos quadros de Cranach, há sempre dois lados em confronto: a bestialidade goza sadicamente com a fragilidade dos humanos.
De que lado estamos nós?
De que lado estão os juízes desembargadores Neto de Moura e Maria Luísa Abrantes?


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