25 abril 2017

e livres habitamos a substância do tempo ?

 (foto: Eduardo Gageiro)

O 25 de Abril foi há 43 anos, e ainda temos muito que trabalhar para chegar ao quarto verso do poema da Sophia:

esta é a madrugada que eu esperava
o dia inicial inteiro e limpo
onde emergimos da noite e do silêncio
e livres habitamos a substância do tempo

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Se me concedessem dois desejos para inventar caminhos que nos levem ao quarto verso, seriam estes:
- Aceitar que não há soluções únicas, perfeitas e a contento de todos: viver em liberdade é viver em diálogo, negociação e respeito mútuo. 
- Saber escutar os outros com atenção. Sim, que aquela frase atribuída a Voltaire, "seria capaz de me deixar matar para que tu possas dizer a tua opinião" está ultrapassada. Se é para morrer, que seja para libertar a liberdade de expressão do prostíbulo onde a obrigam a servir os monólogos autistas e surdos que enchem de ruído o nosso mundo. Dialogar é preciso.

(A propósito, conto um episódio que me aconteceu no facebook: escrevi um texto tomando determinada posição sobre um tema. Foram surgindo comentários com dados que eu desconhecia e outras perspectivas. À medida que conversava com os comentadores ia percebendo cada vez mais o erro da minha posição, e escrevi um ou outro comentário a dar nota de um reajustamento. Às tantas, um comentador zangou-se:
"- É impossível conversar consigo! Você começa por dizer uma coisa e acaba a dizer outra!"
"- Desculpe", respondi eu. "Chama-se a isto: pensar.")

(Fantástico resumo sobre a arte do diálogo no nosso tempo: não vale a pena conversar com quem repensa a sua posição em função daquilo que os interlocutores dizem.)


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