24 abril 2017

a integração dos turcos na Alemanha (1)




Ando para falar disto há vários meses, e faço hoje, 24 de Abril, quando se lembra o início do genocídio dos arménios na Turquia. O Paulo Sousa Pinto contou no programa da Antena 2 "Os Dias da História" o que aconteceu neste dia de 1915, e o posicionamento actual da Turquia. Mas foi simpático: não falou da cumplicidade da Alemanha nesta tragédia.

Em 2016, e depois de ter passado um século a assobiar para o ar, o Parlamento alemão falou abertamente em "genocídio arménio". Este passo difícil deveu-se em grande parte à pressão de Cem Özdemir, deputado dos Verdes. Alemão filho de turcos, aprendeu e apreendeu uma das melhores características do país em que nasceu - a coragem de enfrentar as páginas mais negras da sua História - e levou o Parlamento a tomar uma posição que desagrada ao país dos seus pais, mas estava a tornar-se cada vez mais imperativa para a Alemanha.

Na altura do debate  ouviram-se comentários muito desagradáveis vindos da Turquia. Erdogan fez insinuações sobre a pureza do sangue dos deputados alemães provenientes de famílias turcas, e alguns desses deputados foram alvo de ameaças de morte.

O presidente do Parlamento, Norbert Lammert, abriu a sessão dizendo que é óbvio que o Parlamento aceita críticas, mas as ameaças com o objectivo de impedir o seu debate livre são absolutamente inaceitáveis. Sublinhou que não se podem esquivar a questões difíceis, particularmente nos casos em que a Alemanha se carregou de culpas. E rematou: "A Turquia não é responsável pelo que aconteceu há cem anos, mas tem parte da responsabilidade no que acontece agora e acontecerá no futuro."


No seu discurso, Cem Özdemir afirmou que era obrigação da Alemanha empenhar-se na normalização das relações entre turcos e arménios. Dirigindo-se à Turquia, quis deixar claro que não se tratava de um gesto de arrogância e superioridade moral, mas de uma página da História na qual a Alemanha tem culpas, e que tem de ser encarada de frente - tal como os episódios de violência contra muitas outras minorias nesse país. Dirigindo-se à Alemanha, lembrou que o processo de confronto com o Holocausto é uma das bases da Democracia alemã, mas que há mais crimes que o país tem de reconhecer, nomeadamente o genocídio dos Herero e dos Nama.


Nestes dias em que se fala dos problemas da integração, falemos também disto: como um filho de imigrantes turcos ajuda a Alemanha a caminhar na direcção do melhor de si própria.


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