05 janeiro 2017

governar via Twitter

Ainda a propósito do que escrevi ontem sobre Trump, o Presidente-Sol, partilho uma parte do noticiário Heute Journal (ZDF) de ontem. O filme está disponível aqui durante as próximas horas (vejam a partir de 16:03), e diz o seguinte:

(em tradução do Speedy Gonzalez, como de costume)



Para os políticos, algumas perguntas dos jornalistas podem ser incomodativas e enervantes. Como é óbvio, é desagradável ser confrontado com críticas e com pontos fracos ou contradições na estratégia política ou nas promessas eleitorais. Mas, em Democracia, uma das regras do jogo é disponibilizar-se para as perguntas directas e o debate público.
O futuro presidente Donald Trump parece não ter muita vontade de o fazer. Desde a sua eleição não deu uma única conferência de imprensa - a primeira terá lugar na próxima semana. O anúncio foi feito por ele no Twitter, o seu meio de comunicação favorito: comentários breves e pobremente articulados, que não implicam nem aprofundamento nem reacção às questões que suscitam. Ideal para o ataque instantâneo. Assim, deu a saber via Twitter o que pensa sobre os serviços secretos dos EUA.


Ines Trams sobre a política de Twitter do president elected:


[Reportagem]

Brilhante recepção na passagem de ano: a mais recente aparição de Donald Trump em público. Desde então não voltou a ser visto. No entanto, está muito presente. O futuro presidente já governa a partir da Trump Tower, com a ajuda do Twitter, a sua ferramenta de eleição. Muito útil para Trump: tem o controlo e pode contornar a imprensa que odeia.

Hadas Gold, jornalista do Politico (USA): Ele quer mostrar que está no comando. Sem a ajuda dos seus assistentes para a imprensa, fala directamente para as pessoas, para os deputados. Para ele, este é o meio mais eficiente de tornar públicas as suas mensagens.

[Imagens da Câmara dos Representantes] Política via Twitter. O exemplo mais recente: ontem, quando os deputados republicanos tentaram reduzir o poder da Comissão de Ética, Trump travou os seus colegas de partido:




Esse tweet, a par do protesto público, mostrou-se eficaz: os deputados recuaram.
Os dois partidos mostram apreensão quanto ao futuro quer da política de bastidores em confidencialidade, quer da exactidão das análises.

Chuck Schumer, futuro chefe dos Democratas no Senado: Com todo o respeito, a América não pode arcar com uma presidência por Twitter. As questões são complexas, exigem pensamentos e acções cuidadosos, não nos podemos desembaraçar delas por Twitter.

Contudo, fragmentos de informação em vez de artigos de fundo é o que melhor corresponde a Donald Trump. Meias verdades em 140 caracteres.
Também pressiona empresas via Twitter - sem se preocupar com as consequências na Bolsa. A Boeing foi ameaçada com o cancelamento da encomenda do novo Air Force One após o chefe da empresa ter formulado uma crítica a Trump.




Ford também levou a Ford ao pelourinho do Twitter, fazendo ameaças caso a Ford decidisse investir fora do país. E um elogio, agora que a Ford tornou pública a decisão de permanecer nos EUA.




Hadas Gold, jornalista do Politico (USA): Perante a hipótese de um investimento no estrangeiro, agora as firmas perguntam-se "será que isto provoca desemprego nos EUA?" Os empresários passaram a definir a sua estratégia em função de não serem criticados no Twitter do Trump. O que nem sempre é inteligente - para a empresa, e para a economia em geral. 

Trump também apareceu esta semana no palco internacional via Twitter. Voltou a fazer ameaças a políticos poderosos e perigosos, sem medir as consequências.






[19:36, imagens de uma conferência de imprensa e de uma jornalista a discutir com Trump] A última conferência de imprensa que deu foi em fins de Julho do ano passado. O que não surpreende, porque foi muito tumultuosa. Ao contrário do Twitter, os jornalistas não se deram por satisfeitos com respostas curtas.



2 comentários:

Conde de Oeiras e Mq de Pombal disse...


À semelhança do Passos Coelho no Teatro Politeama (com o La Feria) e do próprio Adolfinho na Escola de Belas-Artes vienense, este escrevinhador de frases curtas e grossas parece mesmo ter sido recusado, pelo American Transportation Institute, como... TAXISTA!

Em Portugal, um homem desta craveira ímpar facilmente atingiria o topo da carreira, na praça de táxis das Chegadas do Aeroporto de Lisboa...

Helena Araújo disse...

hahahaha

(Bom ano novo, ó Conde!)