11 setembro 2016

onde estava no 11 de Setembro de 2001?

Já contei tantas vezes estas histórias, que temo que elas se comecem a contar sozinhas. Para quem ainda não as conhece, cá vamos nós outra vez:

Em 2001 vivíamos em San Francisco. No dia 11 de Setembro fomos acordados pelo  meu sogro, que nos ligava da Alemanha, a dizer que os EUA estavam a ser atacados. Em San Francisco era ainda madrugada, em Nova Iorque passava das nove da manhã, as duas torres já estavam a arder.
Corremos para a televisão, ligámos duas lado a lado, hipnotizados.
O Joachim telefonou à escola, e a directora pediu que levássemos os nossos filhos, porque queriam falar com eles sobre o que estava a acontecer.
Eu não fui trabalhar. Fiquei em frente à televisão o dia todo, a assistir em directo àquele horror em bruto, agravado pela repetição frequente de uma sequência odiosa de imagens: mostravam as pessoas em queda livre, e a seguir um grupo de palestinianos a aplaudir alegremente. No próprio dia 11 de Setembro vi essa sequência dezenas de vezes.
Quando fui buscar os miúdos à escola, a meio da tarde, no "livro de bordo" havia um recado da directora: "Em nome do futuro e da paz, contem às vossas crianças como é a vida dos palestinianos. É preciso andar nos mocassins dos outros para os entender."

Na quinta-feira seguinte houve uma cerimónia ecuménica no City Hall. Representantes de todas as religiões iam fazendo as suas orações e apelos, até que o Reverendo Brown, de uma Igreja Baptista, começou: "quando eu era pequeno e me ia queixar à minha mãe porque a minha irmã me batera, ela perguntava-me o que é que eu tinha feito à minha irmã. Que fizeste tu, América? Que tens andado a fazer, AmééériiiccccCCCCAAAAAAAAA?" - e por aí fora. A praça aplaudiu, entusiasmada (já disse que estava em San Francisco?), mas hoje penso que aquele discurso foi completamente descabido. O país em choque, ainda sem saber sequer quantos mortos teria havido, e ele a confundir vítima e criminoso.

Entretanto já começara a haver ataques a mesquitas e centros muçulmanos, e formaram-se piquetes de cristãos para fazer escudos humanos nesses locais.

Depois, foi o que se viu: os ataques de antraz, o atirador de Washington DC, os boatos (o próximo alvo é a Golden Gate Bridge! Roubaram os planos de abastecimento de água da Bay Area! Em Stanford há bactérias em quantidade suficiente para matar todos os californianos!), o medo servido em doses cavalares nos jornais e nas televisões. O PATRIOT ACT, Guantanamo, as invasões do Afeganistão e do Iraque. E o Donald Rumsfeld a chamar "danos colaterais" aos civis mortos pelo exército americano. ("Danos colaterais"! Que fizeste tu, América? Que tens andado a fazer, AmééérrrriiicccaAAAAA?)

As primeiras bombas que anunciavam a desestabilização da "pax americana" no Iraque foram notícia de primeira página e abertura de telejornal. Pouco depois deixaram de ser notícia. Ficamos a saber dos horrores pelos refugiados iraquianos que procuram a Europa em número cada vez maior.

Para piorar, muita da relativa segurança em que vivemos é conseguida por meios que vão contra os nossos princípios mais básicos - nomeadamente a prática da tortura. Nem quero pensar no valor da factura que vamos pagar um dia por aceitarmos hoje com tanta naturalidade que as vidas dos ocidentais valem mais que as dos outros.





Pensando bem, a questão não é onde estava no 11 de Setembro de 2001, mas onde estamos hoje. O que estamos a fazer para impedir a propagação do ódio? O que estamos a fazer para que o mundo se torne um lugar melhor para todos?



2 comentários:

jj.amarante disse...

Acabaram-se as férias grandes? Enfim, médias, de 16/Agosto a 12/Setembro nem chega a um mês completo...

Helena Araújo disse...

:)
Foi de 25 de Julho a 6 de Setembro. Mas depois do regresso meti baixa por doença... ;)