04 junho 2016

Nathalie Stutzmann!





Este é o mês do Jaroussky em Berlim: vários concertos e duas master classes. Comprei os bilhetes há meio ano, e preparava-me em quase alvoroço para ir ao primeiro desses concertos quando recebi uma mensagem informando que Philippe Jaroussky estava doente e que a maestrina Nathalie Stuzmann, que é também contralto, iria dirigir a peça e ao mesmo tempo cantar a parte dele.
Que decepção! Bem sei que os humanos às vezes adoecem, mas o Jaroussky não nos pode desfazer assim seis meses de alegria antecipada.

Pelo que pensei duas vezes se me valia a pena ir ao concerto - e decidi ir, apesar das expectativas goradas e do tanto trabalho que tinha em casa. Outros terão pensado o mesmo, e não foram. Havia muitas cadeiras vazias na sala, e faltaram-me os casais gay que costumam aparecer em grande número nos concertos deste cantor.

O Stabat Mater foi extraordinário. A Nathalie Stutzmann começou como é normal: de costas para o público (e eu a pensar: "vamos lá ver o que sai daqui"). Ao chegar o seu momento de cantar, pegou na estante e virou-se para o público, dirigindo a orquestra de costas com precisão e graça. E quando abriu a sua voz magnífica de teca e cardamomo, esqueci completamente o Jaroussky.

Aqui um exemplo, com Vivaldi:



A sua voz combinava-se harmoniosamente com a da soprano Anna Prohaska, que também esteve muito bem, mas nem o tom claro e fresco desta, nem as perfeitas modulações, nem o penteado, nem o lindíssimo vestido sem costas conseguiram por um momento desviar a nossa atenção do prodígio que estava a acontecer naquela sala. O público aplaudiu longamente e de pé. A caminho da saída, a desconhecida ao meu lado comentou, com um enorme sorriso: "que sorte tivemos!"

Inesquecível.





1 comentário:

Rui Paulo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.