11 maio 2016

terminal de aeroporto



O meu avião saía da Cidade do Cabo às duas da tarde. Tomámos o pequeno-almoço, fomos gastar os últimos rands nuns vinhos da região e no Pan-African Market da Loop Street, e ala para o aeroporto. Íamos em aviões diferentes, porque o Joachim foi com milhas pela Lufthansa e eu com um bilhetinho de pelintra que incluía duas maravilhosas passagens por Heathrow, esse fantástico aeroporto onde se gasta quase tanto tempo a ir de um terminal para outro como no voo que - finalmente - se segue a tais andanças. O meu avião saía primeiro, pelo que o Joachim me deixou no aeroporto e foi devolver o carro alugado. Do pequeno-almoço já nem memória tinha, e o almoço do avião, caso houvesse, ainda vinha longe. E eu sem um único rand no bolso. Fui a um café e perguntei se podia pagar com o cartão crédito e assinatura, em vez de PIN. Disseram que podia, pedi um cappuccino e uma tarte de lima e merengue que se estava a rir para mim descaradamente. Quando ia pagar, pediram-me o PIN. "Então?  Eu perguntei antes se podia pagar apenas assinando - é que não sei o PIN do meu cartão." Chamaram os responsáveis, o cappuccino a arrefecer enquanto eu ia percorrendo toda a cadeia de gerência do café. Quis pagar com as últimas moedas de euros que tinha (exactos 1,87 €) mas a mais alta responsável disse que não precisava de euros para nada e ofereceu-me o cappuccino que já estava morno. Agradeci imenso, e despedi-me disfarçadamente e com muita pena da tarte de lima e merengue pousada no balcão.

Daí a bocadinho o Joachim veio ter comigo à minha porta de embarque, mas já não havia tempo para ir ao café pagar com o cartão dele e rever a saudosa tarte.

No avião deram-me um pãozinho daqueles de encher a cova do dente, se for pequena. 

Em Joanesburgo tinha de esperar três horas. Três longas horas. Três horas intermináveis. E um Illy a fazer-me negaças, com umas empadas de carne que eram pura pornografia para a minha fome. Fui à caixa, e perguntei se podia pagar com o cartão de crédito e sem PIN. Verificaram, disseram-me que sim. Pedi uma empada e uma cerveja. Quando ia pagar, dejà-vu: pediram-me o PIN. "Então? Eu perguntei antes se podia pagar apenas assinando - é que não sei o PIN do meu cartão."
A senhora atrás de mim na fila, com dois violinos a tiracolo, disse que se eu lhe pudesse dar o dinheiro em euros ela pagava a minha conta. Mas eu só tinha uma nota de cinquenta euros, e as tais moedas que não chegavam para a despesa. Riu-se, e disse que me pagava na mesma. Perguntei-lhe se ia para Berlim, mas não - ia para Frankfurt. Recusei. Isso mesmo: estava a morrer de fome (e de gula, confesso, que aquela empada tinha um ar fabuloso), e recusei uma oferta tão generosa quanto descontraída de me pagarem um almoço.
A jovem riu-se, e disse ao senhor da caixa que afinal eu era demasiado tímida para aceitar que me pagassem a conta. Agradeci-lhe mais uma vez, e desapareci rapidamente.

Da próxima vez que me pedirem uma esmola, hei-de lembrar-me disto. Do que temos de desistir de nós, do nosso brio, para aceitar que um desconhecido nos dê uma moedinha. 

A violinista ficou por ali a beber uma cerveja, e ainda pensei meter conversa com ela, mas não queria correr o risco de ela insistir em oferecer-me a empada, e por isso deixei-me no meu cantinho. Daí a um longo bocado o Joachim apareceu de novo. Já estavam a fazer o embarque, mas era um A 380 (*) com gente que nunca mais acabava, e pedi à hospedeira se ainda me dava dez minutinhos. Fomos comprar a tal empada. O senhor da caixa, no Illy, serviu-nos a empada e a cerveja mas não aceitou o cartão do Joachim, porque a outra cliente já tinha pago tudo. Agradecemos-lhe a honestidade, e saboreámos o lanche sem saber se havíamos de rir ou de nos sentir comovidos e gratos.

Se alguém conhecer uma violinista de sorriso aberto, com uns trinta anos, cara de asiática, cabelo comprido e dois violinos (um numa caixa preta e outro numa caixa azul claro) que ao fim da tarde da segunda-feira passada estava a ir de Joanesburgo para Frankfurt, diga-lhe que tem a haver um bom jantar em Berlim. 


(*) Sim! Voei num A 380! É um sofá voador. Só reparei que já tinha levantado voo quando olhei pela janela e vi a cidade muito lá em baixo. Mas não sei se fui no andar de baixo ou no de cima. Entrei pela porta que me mandaram, e fui sempre em frente.    

2 comentários:

Lucy disse...

e o que se passou entre a ida e a vinda? não acredito que não houvesse nada de interessante e/ou de aventureiro...

Helena Araújo disse...

:)
Lá iremos, lá iremos...