20 maio 2016

fantástico sentido de oportunidade (3)

Rui Carvalho tem um sentido de oportunidade ainda mais fantástico que eu: teve 14 longos anos para denunciar o que lhe parece ser um comportamento criminoso de um investigador, mas só se lembrou de falar disto justamente na altura em que o tal investigador, agora ministro, está a travar uma luta complicada para fazer cumprir obrigações constitucionais que vão contra interesses de um grupo empresarial.

Coitado do Rui Carvalho. Mesmo que tivesse razão (e parece que não tem - as entidades públicas envolvidas afirmam que o processo decorreu com toda a normalidade), ser-lhe-ia muito difícil explicar porque é que foi precisamente neste momento que se lembrou de denunciar algo que aconteceu há 14 anos. E vai-lhe ser ainda mais difícil conseguir que alguém acredite que o que o move não está de modo algum ligado a poucas-vergonhas como as que se descrevem nesta reportagem.

Mais lhe valia ter ido regar o jardim à chuva, ou perguntar se alguém pode levar uma encomendazinha no próprio dia em que se suspeita de uma bomba ter feito cair um avião...


4 comentários:

me disse...

hmmm... até concordo com o "sentido de oportunidade", pese embora, há que considerar que:
1. o ministro errou e esta denúncia só faz sentido após o ministro ter ocupado esse cargo. Que diria ele se outros agora fizessem o mesmo? pouco importa!
2 - o grupo GPS, com fortes ligações ao PS, saíu praticamente ileso... não está a concorrer com a escola púclica... (nuts!)

bjs

Helena Araújo disse...

1. O ministro errou? Isso não me parece tão óbvio. Tanto quanto sei, as entidades envolvidas confirmaram que tudo foi processado como é normal nestes casos.
Ele podia ter denunciado quando o ministro tomou posse, mas fá-lo quando o ministro toma posição contra interesses instalados. Parece que o que o move não é o amor à justiça, mas a defesa desses interesses.
2. Isso é muito interessante. Tem dados concretos? Nomeadamente o nome das escolas do grupo GPS que continuam a receber turmas em início de ciclo apesar de haver uma escola pública ao lado?

me disse...


errou! quem se apropria de verbas indevidas e só as devolve a pedido da instituição, após esta ter descoberto... peço desculpa, mas errou! pessoas de bem, após verificarem que não se cumpriam os critérios, que não haviam propinas a pagar, devolviam o valor confiado, não esperavam que fosse pedido!

parece aquele tipo de empresa que abusa, compra e paga o que não deve, que nada tem a ver com a sua atividade, e espera que as finanças não apareça para verificar! entretanto se não aparecerem os inspetores, já salvaram mais uns trocos em impostos a favor do estado e de todos nós!

é que nem vejo como possa isto ter diferente interpretação!

e digo-lhe mais, depois disto até podia vir a ser ministro das pescas, mas da educação? lamento, mas na minha opinião está muito errado!

na reportagem que linkou, já em 2012, os colégios com contrato de asociação estavam junto a escolas públicas, como perderam apenas 1 dos 14 contratos...

eu conheço um caso, grupo gps, com contrato, que se mantém e cuja escola pública está à mesma distância a que muitos alunos das escolas primárias que fecharam no interior por terem até 20 alunos,têm hoje de fazer!

mas não conheço todos os colégios e dentre deles aqueles que têm contrato!


[não conheço um nem outro (professor/ministro) e não tenho interesse pessoal nesta polémica dos contratos]

Helena Araújo disse...

me,
sobre o crime que houve, parece-me que sabe mais que a própria FCT.
Sobre as acusações de ele só devolver o dinheiro quando é descoberto
(li no observador):
"Foi Brandão Rodrigues quem, a 25 de setembro de 2002, — ou seja, ainda antes do ofício da FCT — tomou a iniciativa de informar a FCT da sua vontade de ressarcir a fundação pelos valores atribuídos de forma indevida. Nessa carta, pedia ainda a suspensão temporária da bolsa de doutoramento com efeitos a partir de 1 de outubro de 2002. O ministro da Educação fez ainda chegar à revista uma cópia do cheque passado em nome da FCT no valor de 6.329,33, a diferença entre o total em dívida (18.089,33 euros) e o valor total da nova bolsa (11.760 euros)."

Mais à frente, o mesmo artigo informa que a carta de denúncia do professor só chegou 5 dias depois da carta em que Brandão Rodrigues esclarece a situação e se prontifica a devolver o dinheiro.

"A FCT recebe uma primeira carta do Professor Rui Carvalho, datada de 30 de setembro de 2002, alegando irregularidades. Todas as questões levantadas nessa carta foram esclarecidas, tendo a FCT apurado que nunca existiu sobreposição entre a bolsa de doutoramento atribuída pela FCT e qualquer outra bolsa.
A FCT concluiu assim, em 2002, não haver indício de ilegalidade, tendo dado o processo por encerrado”, pode ler-se no esclarecimento da FCT”."

É preciso também saber que o normal é que essas bolsas contemplem o valor máximo das propinas, e que o normal é que, uma vez averiguado o valor que a universidade cobra (muitas vezes nem se sabe se o virá a cobrar) os bolseiros devolvem o que não tiver sido utilizado.

Mantenho: o professor Rui Carvalho sai muito mal nesta fotografia.


Quanto ao grupo GPS: que pena não ter informações mais concretas!