25 abril 2016

"festa"

Hoje, na nossa enciclopédia, é dia de F de Festa.

Escrevi um apontamento (a seguir) que suscitou uma magnífica resposta da Guiomar Belo Marques. Já ouvi todo o programa, sentindo uma pena cheia de retroactivos por não ter estado no Coliseu nesse dia. Mas tinha 10 anos, e morava no Porto.

O meu apontamento:

"Festa" é uma bela palavra para este dia. Melhor seria ainda se fosse no 1º de Maio.
Ainda ontem ouvi alguém dizer, no filme "48" da Susana Sousa Dias: "O 25 de abril começou no 1º de Maio". Nesse dia, no Porto, assisti à maior festa da minha vida: um povo inteiro unido em abraços, sorrisos e lágrimas de alegria, já sem medo e ainda sem divisões. Muitos anos mais tarde, estava no sul da Alemanha no primeiro 3 de Outubro, quando se assinou o tratado da reunificação. Saí para o centro da cidade antecipando o segundo 1 º de Maio da minha vida, os alemães todos unidos numa imensa alegria comum e eu entre eles, a reviver o meu passado num presente feliz - e nada. O pessoal aproveitou o feriado para ir tratar da sua vidinha.
Deixem cá que vos diga: a comissão de festas em Portugal trabalha melhor. Muito melhor!


A resposta da Guiomar (para os assinantes do Público: podem consultar no arquivo do jornal um texto de página inteira sobre este espectáculo, na edição de 29 de Março de 2004):

Antes de mais, um Viva à Festa que é, dentro de nós, o dia de hoje.
A Helena Araújo diz, no seu post, que o “25 de Abril começou no 1º de Maio” e em parte tem razão, mas, de certo modo, ele começou foi a 29 de Março de 1974, quando se realizou no Coliseu dos Recreios o I Encontro da Canção Portuguesa, organizado pela Casa da Imprensa. Não por ter tido qualquer influência na data em si ou na operacionalidade dos Capitães de Abril, que já tinham tudo mais do que preparado, mas porque dele saiu a canção do Zeca que ficaria para a história como o hino do 25 de Abril.
Estive lá e jamais esquecerei aquela noite em que ninguém teve medo. Um momento de resistência e luta em relação ao qual a pide nada pôde fazer ( http://ruadojardim7.blogspot.de/2014/04/i-encontro-da-cancao-portuguesa.html).
Lá fora, eram dezenas de carrinhas da polícia de choque a circundar todo o perímetro do Coliseu, enquanto lá dentro os pides tentavam infestar a sala, sem sucesso. Atrás do palco, todos os cantores tiveram de soletrar uma a uma as letras que iam cantar. A pide ia-as proibindo na íntegra ou cortava versos. No palco, cada um ia explicando de formas indirectas que tinha esquecido ou perdido versos e o público cantava-os. Só o Zeca ficou sem soluções. O mais esperado por todos nós, o pai da canção de protesto em Portugal e o mais terrivelmente perseguido, viu uma a uma serem-lhe proibidas todas as suas músicas. Por fim, avançou com duas, que aos pides pareceram inócuas: Grândola e Milho Verde. Foi assim que Grândola, cantado duas vezes pela sala apinhada e de pé, e por todos os músicos no palco, determinou a escolha dos Capitães de Abril. Se não tivesse havido este concerto, a senha teria sido outra.
Ontem, encontrei, por acaso, o registo de um programa que os meus amigos António Macedo e Viriato Teles fizeram há dois anos para a rádio sobre este espectáculo. Desconhecia-o, porque não estava cá na altura, e foi com surpresa que revivi aquele inesquecível dia 29 de Março de 1974. Nem sabia, sequer, que aquilo tinha sido gravado. Foi emocionante ouvi-lo. Fica aqui, para o ouvirem se quiserem, hoje ou noutro dia qualquer, porque vale a pena.
Bom 25 de Abril para todos!


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