07 fevereiro 2016

"o perigo é a minha profissão"



Esboço do Orçamento do Estado - Diário de um sobrevivente
Esboço do Orçamento do Estado - Diário de um sobreviventeDedicado a todos os jornalistas e comentadores que pereceram nesta tragédia sem sentido.
Publicado por Portugal Não Pode Mais em Sexta-feira, 5 de Fevereiro de 2016

(fonte)

Por estes dias alguns comentadores de direita deram uma enorme prova de coragem, quiçá loucura. O perigo é a sua profissão, e atiraram-se de cabeça, os comentadores. Enquanto Bruxelas pensava sobre o OE apresentado pelo governo de Portugal, eles foram adiantando trabalho e deram-nos a saber como é que Bruxelas ia decidir, e porquê. Avançavam as respostas com uma certeza tal que fiquei a pensar se isto seriam segredos da alcova de algum comissário. Ou inconfidências do personal trainer - que, sob tortura, as pessoas acabam por confessar tudo.

Ao contrário do anunciado peremptoriamente pelos comentadores, o OE passou em Bruxelas. Se o informador foi o personal trainer, mais uma vez se comprova que as pessoas sujeitas à tortura muitas vezes não dizem a verdade, mas o que o interrogador quer ouvir.

Com que cara andarão agora esses comentadores? Será que a meteram dentro de um saco ao ver a luz verde em Bruxelas, e o António Costa a trazer a Berlim um Portugal de costas direitas?
A verdade é que não lembra ao diabo fazer wishful thinking em público de modo tão óbvio e num caso em que não têm o menor controlo da situação.

Não é que eu não tenha feito o mesmo. Se querem saber tudo, já me aconteceu, na escola primária: zanguei-me com a minha colega de carteira, e disse-lhe que o meu pai era amigo do chefe dos bombeiros, e no dia seguinte iam cercar a casa dela e ela ia presa. Arrependi-me logo a seguir, claro, mas já era tarde demais. E foi assim que aprendi, aos sete anos, que nunca se deve fantasiar em voz alta.
Felizmente, tudo se resolveu: no dia seguinte eu confessei-lhe que o meu pai não era nada amigo do chefe dos bombeiros, e que tinha sido muito parva, e ela confessou-me que de manhã tinha ido à janela, cheia de medo, ver se a casa estava cercada por polícias. Ficámos amigas outra vez.

Pelos vistos há por aí comentadores que nunca se zangaram com os amiguinhos da escola quando tinham sete anos.


5 comentários:

MO disse...

Não sendo comentador nem adovgado, deixe-me que esclareça uma coisa. O orçamento do Dr. Costa não passou em Bruxelas, nem poderia passar, como salientaram muitos comentadores de direita e outros que nem por isso. Isso era óbvio desde a primeira hora e tornou-se uma certeza quando se percebeu que o governo português queria 'aldrabar' a Comissão com uma teoria sobre medidas temporárias e défice estrutural.
O que Bruxelas deixou passar, convidando ainda assim o Governo português a apresentar mais medidas, foi o Orçamento do Dr. Costa com um ajustezeco de 1.125 milhões de Euros (845 estruturais). Pode parecer, mas não é a mesma coisa. Não fosse isso ter efeitos nos nosso bolso, seria até divertido ver um governo de esquerda a reduzir impostos progressivos para aumentar impostos indirectos.

Helena Araújo disse...

MO, todos os anos é a mesma fita: Bruxelas diz que o OE é demasiado optimista, diz que é preciso poupar mais e impõe alterações.
Este ano, houve em Portugal quem olhasse para este processo com Schadensfreude antecipada, esperando que Bruxelas fizesse uma fita ainda maior do que o habitual. O que não é nada divertido, porque, como disse, tem efeitos nos nossos bolsos.

Entretanto, as negociações ocorridas no passado foram sempre apresentadas como algo normal. Mas este ano querem convencer-nos que se trata de uma derrota do governo socialista.

Júlio de Matos disse...

Os aldrabões profissionais querem convencer-nos de muita coisa, como já convenceram até há cerca de quatro ou cinco anos, mas agora cada vez convencem menos.

Eu há seis anos e meio que já nem lhes dou conversa.

É a única maneira de lidar com eles.


von Stauffenberg.

MO disse...

Este ano é mesmo uma derrota do governo e, para mais, desnecessária, depois da fita Varoufakis. E, não morrendo de amores pelo Dr. Costa e pela geringonça, tenho muita pena que assim seja.
Este ano não se tratou de Bruxelas tecer umas criticazinhas sobre a implausibilidade das estimativas económicas do orçamento, mas de um chumbo efectivo do draft do governo, só aprovado com extensas alterações e, ainda assim, com reservas.
Eu só não espero que tudo corra pelo melhor porque este orçamento é fortemente regressivo, o que seignifica uma penalização acentuada das classes mais desfavorecidas. Com o estado do país, parece-me inaceitável.

Júlio de Matos disse...


E eu tenho é muita pena de que a cabecita das pessoas como MO assim seja, ou assim ande, ao sabor da propaganda estéril.

"Fita Varoufakis"? "Geringonça"? Códigos patéticos da estafada e insuportável narrativa goebbelsiana que intoxica Portugal desde há meia dúzia de anos a esta parte e que não desiste, apesar do seu comprovado insucesso.


"Este Orçamento é fortemente regressivo" e "significa uma penalização acentuada das classes mais desfavorecidas" são apenas exemplos notórios do desnorte que grassa nos mentores desta narrativa votada ao fracasso e na qual já só acreditam os mais empedernidos e clubísticos aparelhistas da PàF.


Enfim, salva-se essa admissão implícita da inutilidade destes últimos quatro anos e meio de sacrifícios, patifarias e ilegalidades patente no suspirado "com o estado do País". É verdade, o estado do País, ao fim destes fabulosos quatro anos e meio de "salvação" por parte dos "heróis" portas, coelho, gaspar e marilu, após uma apregoada "saída limpa", o estado do País é de facto lamentável e preocupante - e muitos com nome sonante nestes últimos quatro anos e meio terão um dia de pagar pelo que nos fizeram.

A seu tempo, porém, que a Justiça verdadeira age sempre com lentidão; mas com absoluta certeza.