27 janeiro 2016

uma pessoa põe-se a falar da dificuldade que é para um emigrante ter de fazer centenas de quilómetros para ir votar, mas depois recebe uma mensagem assim e sente-se envergonhada

Numa conversa de facebook sobre o voto dos emigrantes falava-se de parte da alta taxa de abstenção ser devida, eventualmente, a terem cartão de cidadão emitido em Portugal, o que os registaria automaticamente numa mesa de voto no país, e falava-se também sobre as dificuldades para ir votar ao consulado, especialmente depois de terem fechado uns quantos para contenção de custos. Dizia eu que muitos emigrantes são obrigados a tirar um dia de férias para se irem inscrever no consulado, e a ida ao consulado implica para muitos deles uma viagem de centenas de quilómetros.

E foi então que recebi esta mensagem:

"Olá Helena, sou uma seguidora e estava seguir uma conversa num post onde não posso comentar.
Voto na Irlanda porque me registei aqui, o meu cartão de cidadão continua igualinho (tirado em Portugal).
Sim, tirei um dia de férias para me registar, mas...a democracia vale isso. É uma desculpa parva. No sábado, eu e o meu marido fizemos 400 km para votar porque o voto tem de ser na Embaixada (para o parlamento foi pelo correio). Sei de um amigo que fez igual na Croácia para poder votar (mas tb sei de amigos que não quiseram saber). Difícil fazer generalizações sobre o voto dos expats, que foram assim e assado. Vejo as mesmas tendências nos que ficaram em Portugal, cada caso é um caso..."

(sublinhado meu)

Ia sugerir que se desse uma medalha do 10 de Junho a esta portuguesa, mas desta vez não me apetece brincar com coisas tão sérias. A que baixíssimo patamar da Democracia já descemos, para eu sentir este impulso genuíno de dar uma medalha do 10 de Junho a uma pessoa, só porque foi votar?


4 comentários:

Fuschia disse...

Eu acho que ainda assim merecia uma medalha. Ou por outro, sinto que este País não merece a dedicação dessas pessoas. Também tenho uma amiga que foi votar a Madrid, mas no Domingo (não sei se em Espanha o processo poderá estar mais facilitado).

Helena Araújo disse...

Fuschia, este país somos nós. Cada um de nós é que tem de fazer por estar à altura da dedicação destas pessoas. Cada um segundo as suas possibilidades.
Penso que é isso que mais mexe comigo, no testemunho que ela deu: depois disto, eu não me posso acomodar em desculpas baratas.

Fuschia disse...

Sim, somos nós, que gostamos da Quinta e da Casa dos Segredos e que escolhem um Presidente porque ele é um gajo porreiro para uma caldeirada de amigos em Setúbal. Estou desanimada com as escolhas democráticas e mais uma vez, a abstenção. Não imaginas as filas que vi para os saldos nos shoppings (passei à frente de dois no Domingo).

Helena Araújo disse...

Também me faz sentir muito desanimada.
Mas depois aparece aí uma pessoa a dizer que "a democracia vale isso", e eu ponho-me logo a reparar que o copo está quase quase a chegar a meio-cheio... :)