02 dezembro 2015

calma: o Zuckerberg não é uma espécie de São Marcos



Se estou bem informada, é tão simples como isto: se o Zuckerberg morresse, ia ser preciso vender um disparate de acções para pagar o imposto sucessório. Pelo que é boa ideia fazer o que tantos outros fazem: passar grande parte do capital para uma fundação (gerida pelo próprio, ou extensões suas, obviamente), de modo a que a vida da empresa possa continuar normalmente após a morte do seu proprietário, sem correr o risco de ter de se vender à concorrência.

Dito isto, é bonito que o Mark Zuckerberg e a mulher queiram melhorar o mundo e decidam gastar parte do dinheiro que têm. Justiça lhes seja feita.

Dito isto, odeio cartas tipo testamento dirigidas a recém-nascidos
Deixem as crianças ser crianças, deixem-nas ser sujeitos livres e com direito ao seu próprio destino, em vez de darem o seu rosto a alguma causa e bandeira, antes ainda de terem largado o primeiro vagido, quando mais saberem articular "eu". 

Faço votos sinceros para que a exposição mediática e os 500 milhões que ainda sobraram para os pais não sejam uma carga insuportável na vida da pequena Max. 


11 comentários:

iv disse...

De acordo com as vantagens fiscais das fundações. Isto dito, em países com fiscalidade atenta (e os EUA não são dos "mais meigos") essas fundações tem realmente de cumprir o objeto social com que foram fundadas, o que geralmente significa de facto gastar uma determinada percentagem do capital em atividades a favor deles (e não apenas em coisas como custos administrativos). Pelo que apesar de tudo, a fundação não pode funcionar apenas como um benificio fiscal...

mov disse...

Comentário um pouco agreste ou então sou eu que estou muito sensível.

Helena Araújo disse...

iv, não estava a falar dos benefícios fiscais, mas da governabilidade da empresa. Quando vi esta notícia, lembrei-me logo de uma empresa alemã cujos fundadores (e, em conjunto, proprietários de uma percentagem de acções tão grande que podiam manter-se à frente dos destinos da empresa) passaram boa parte das suas acções para fundações, de modo a impedir que os herdeiros tivessem de vender acções para pagar o imposto sucessório, o que podia levar a uma drástica mudança de direcção.
Essas fundações não são meros truques fiscais. Fazem um trabalho extremamente valioso.

Helena Araújo disse...

mov,
às tantas, ambos. :)
Fiquei um bocado surpreendida com a onda de exaltação que ontem percorreu o mundo. Então as pessoas não sabem que criar fundações é uma estratégia de sobrevivência de um determinado conceito empresarial?
Além disso, fiquei realmente chocada com a carta escrita à filha. Não com o conteúdo, claro, mas com o gesto.

Lucy disse...

também achei um pouco agreste... vejo que não tens este casal "under your skin"...

Helena Araújo disse...

:)
O casal? Nem sequer reparei na mulher. O que vejo são os interesses da empresa.
O casal é-me tão indiferente como o Bill Gates e a ?, por exemplo.
Mas nota que disse que é bonito, justiça lhes seja feita.

Agora: se eu tivesse 50 mil milhões, guardasse 500 milhões para mim e usasse os restantes numa fundação que permite manter o controle sobre a minha empresa até para lá da minha morte, e simultaneamente melhorar o mundo, não era preciso fazerem a minha hagiografia, pois não?

Tenho pena da miúda. Usaram-na sem lhe pedirem a opinião. Isto é o pior do facebook em todo o seu esplendor.

Lucy disse...

nós, em Portugal, vimos e ouvimos o casal... eu nem sou aderente do facebook, comigo não ganham nada(espero!)

Nuno (@gmail) disse...

Helena, o caso ainda é mais interessante. Não se trata de uma fundação mas de uma L.L.C.
Segundo este artigo no N.Y.Times, é o equivalente a passar o dinheiro de um bolso para o outro, poupando muito em impostos, e não obrigando a doar nada para causas de beneficência.

Helena Araújo disse...

A sério, Nuno?!
Acho que nem vou ler o artigo. Prefiro ficar na minha versão (agreste, ao que dizem), para não perder de vez a fé na humanidade... ;)

Helena Araújo disse...

Ahem...
Afinal li o artigo, e gostei muito. sobretudo a parte que questiona se o uso do dinheiro que devia ser de impostos deve ser decidido por oligarcas, ou por pessoas democraticamente eleitas.
Obrigada!

Nuno (@gmail) disse...

Que bom que gostou do artigo.
Concordo que a discussão no final do artigo é importante. Essencial mesmo. É ela que está na base da social-democracia. Parece que os americanos estão prestes a descobri-la :)