02 novembro 2015

"mão"

Tinha 15 anos, e andava de férias em Andaluzia. Perto de um monumento importante em Sevilha, uma cigana veio ter comigo. Espetou-me um cravo vermelho na mão, recusei. Insistiu que era um presente, eu não queria, ela não o aceitava de volta. Segurei o cravo a contragosto, ela agarrou-me a outra mão, queria lê-la. Recusei, forçou, leu atabalhoadamente: que ia ter muitos filhos, viajar muito, ser rica. Depois pediu dinheiro. Disse-lhe que não tinha, devolvi-lhe o cravo. Ficou zangada, furiosa. Encolhi os ombros. Ela é que me quis ler a mão, eu não pedi.
E afinal? Rica, como tanta gente do primeiro mundo. Viagens, q.b. - ainda agora estou encalhada no aeroporto de Munique, o avião tem uma hora de atraso. Filhos, dois infinitos deles.
Devia ter pago à cigana: a partir da palma indecifrável que é a da minha mão, deu-me palavras para classificar o que depois aconteceu.

A verdade é que tenho a pele das mãos muito seca. Na semana passada fui ao consulado fazer o cartão do cidadão, e a máquina não me apanhava as impressões digitais. Por um triz não existia. O funcionário recuperou-me para o sistema: sugeriu que esfregasse os dedos no nariz, e a máquina lá conseguiu desenhar, a custo, as curvas de nível de altos e baixos só meus.

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