27 novembro 2015

le nozze di Figaro



Como em Berlim há ópera quase todos os dias, e várias diferentes por mês, e como os meus dias não esticam, o mais das vezes deixo que as óperas aconteçam sem mim. Mas quando os amigos avisam, "olha o Joseph Calleja!", ou, mais recentemente, "olha a Dorothea Röschmann!" e "Doravante, os CD da Frau Röschmann ficarão junto aos da Callas e da Hunt Lieberson", vou.

Fui ontem, para ouvir a Dorothea Röschmann. Tenho andado tão ocupada que nem espreitei o restante elenco. Qual não foi a surpresa ao ver a Anna Prohaska no papel de Susanna - fresca, segura, divertida, maravilhosa.

De todas, a melhor surpresa da noite foi Marianne Crebassa a fazer o Cherubino. Agarrem-me, que ainda vou acabar groupie da Marianne Crebassa. Já espreitei o calendário dela, e não está previsto mais nenhum concerto em Berlim. Contudo, a avaliar pela reacção do público (só para ela ouvi os gritos de "brava!", o entusiasmo revigorado no aplauso), tenho a certeza que voltará a estes palcos.

A encenação, de Jürgen Flimm, estava no ponto certo: a discrição que realçava as dores e angústias dos personagens e deixa a música respirar, o extraordinário sentido do cómico que pôs a sala a rir repetidamente (e nos fez sair a todos com um sorriso nos lábios), o bom humor das coreografias, e o sábio uso multidimensional do palco, trazendo os cantores para o corredor entre a orquestra e o público, ou pondo-os a cantar em planos elevados no palco.

E a Dorothea Röschmann? Excelente, sem dúvida - mas quando entrou em palco, eu já só tinha ouvidos para a Marianne Crebassa, porque sou uma senhora séria e não consigo apaixonar-me por duas mulheres na mesma noite.


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