14 outubro 2015

"wir spielen alle" - ciclo de sinfonias de Beethoven na Filarmonia de Berlim


O meu ciclo Beethoven começou na semana passada com a sétima, e terminou ontem com a quinta. Não podia ter sido melhor. Ontem, então, foi um fechar como quem abre para outra dimensão. Tocaram toda a quinta sinfonia em arcos vertiginosos - passei-a numa montanha russa, excepto no terceiro andamento, quando saí com o ET numa bicicleta a voar sobre Berlim. 

A sétima foi tocada no primeiro concerto a que assisti, neste ciclo, e esteve igualmente extraordinária. Os músicos viveram o crescendo do último andamento com tal energia que - aposto com quem quiser - no final da sinfonia estavam a tocar em pé. Eu ouvi-a em alvoroço: comemorava-se os 25 anos da reunificação alemã, e não conseguia deixar de pensar nesta mesma sinfonia que Barenboim ofereceu aos alemães de Berlim Leste poucos dias depois da queda do muro. 

Assisti a todos os concertos nos bancos do coro, hipnotizada pelo Simon Rattle. Está melhor que nunca, e surpreendi-me amiúde a sorrir, encantada: momentos em que dirigia apenas com as sobrancelhas, momentos em que se limitava a um olhar de sublime prazer. Outras vezes, temi que a batuta lhe saltasse da mão e voasse até aos confins da sala. Leveza e densidade, lirismo e energia. Vai deixar esta orquestra em 2018, e já sinto saudades. Decidi que vou tentar não perder nenhum dos seus concertos nestes anos que restam - e quero assistir a todos sentada nos lugares do coro, neste frente a frente irresistível. 

À minha frente estava uma senhora que conheci na longa espera da caixa, e me contara que anda com uma fotografia do Rattle na carteira. Ali estava ela, e esteve a sorrir o tempo todo, que eu bem vi. A lambisgóia!


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