26 outubro 2015

o "44" e a "ex-namorada de Sócrates"

Ando há meses com vontade de dizer isto, e vai ser hoje: trocar o nome de uma pessoa por um número é uma estratégia para ferir deliberadamente a dignidade humana. Em termos simbólicos, chamar "44" ao José Sócrates não é muito diferente de lhe tatuar esse número no braço. Em termos simbólicos, repito. Durante meses, uma certa comunicação social usou e abusou dessa estratégia e não foi impedida, por quem de direito, de introduzir nos nossos costumes uma prática de raiz ideológica nazi.

Andamos iludidos, pensando que ser nazi é um problema "genético" que só assiste aos alemães (este "genético", ou o também muito usado "está-lhes na massa do sangue",  vai beber à mesma ideologia, aliás). Os portugueses não correm o risco de ter deslizes desses, afinal de contas são um povo de brandos costumes. Brandas areias movediças onde nos vamos alegremente afundando.

Entretanto, à boleia da operação Marquês, o cerco à jornalista Fernanda Câncio aperta-se cada vez mais. Trocam-lhe o nome pela designação "ex-namorada" - o que, não sendo um número, é na mesma um ataque à sua alteridade e dignidade - e envolvem-na numa rede de insinuações torpes com base em coisa nenhuma. A mais recente que vi incluía-a na "teia de dinheiro de Sócrates". Será que tinha contas secretas, levou, trouxe, recebeu dinheiro? Não. Para o Correio da Manhã, para fazer parte da "teia de dinheiro de Sócrates" basta ter-lhe telefonado, e a uma das arguidas do processo.
Tudo isto seria ridículo se não ferisse irremediavelmente o bom nome de uma pessoa, e se não fosse mais um golpe no mínimo de decência que se exige a uma sociedade civilizada.
A "teia" do Correio da Manhã atinge muitas outras pessoas, mas falo apenas do que conheço. E o que conheço é uma jornalista cujos valores, capacidade de análise e de exposição admiro imenso, e que parece estar a ser vítima de pessoas dispostas a denegrir a sua imagem. Pergunto: com que objectivos?

Dei apenas dois exemplos. Não são únicos, infelizmente.

Há que estar alerta, porque na nossa comunicação social proliferam chouricinhos de pus que espalham o seu veneno em função de interesses que só eles próprios saberão, e envenenam-nos a todos, arrastando a pouco e pouco o nosso sentido de decência para um estado vegetativo.


1 comentário:

Anónimo disse...

Um pouco à margem do tema, ainda hoje se trata por Bibi um conhecido molestador de crianças.