24 outubro 2015

chegada à paz

Parece-me que vou contrair um novo vício na internet: o "chegada à paz", blogue da Adriana Costa Santos, uma jovem portuguesa que decidiu largar o sofá para ir ajudar os refugiados. Ela explica porquê, e copio para aqui o seu primeiro post:

A secretária do meu quarto está virada para uma grande parede branca. Conheço os seus riscos de cor, de tantas vezes que me sentei a olhar para ela, de caderno em branco e caneta destapada, prestes a tomar grandes decisões. Numa noite, daquelas que não ficam na memória, ali estava eu, impaciente em relação ao futuro e à espera que uma resposta proviesse da cal. Tinha-me licenciado e resolvera parar de estudar um ano para pensar no resto da minha vida. Enquanto refletia, de computador fechado, os meus amigos do Facebook dividiam-se em opiniões extremas, sem qualquer fundamentação, quanto à grande questão dos refugiados sírios. Usavam e abusavam de termos como invasão, terrorismo e fundamentalismo, disparavam com “eles querem é rebentar com a Europa”, “agora vamos ter de pôr as nossas mulheres de burka”. Naturalmente, surgiam também vozes de apoio e compaixão, e, por todo o lado, centenas de portugueses disponibilizavam-se para receber refugiados nas suas casas. Estava na hora de fazer alguma coisa. Mais do que ler e entender a fundo a guerra na Síria e a crise humanitária a que assistíamos, concluí que o contexto em que me encontrava era o ideal para dar uma ajuda concreta, em qualquer parte da Europa. 

Não tenho filhos, nem responsabilidades, tenho um trabalho, mas só para pagar as saídas à noite, não tenho nada a perder. Posso ajudar estas pessoas, aplicar os valores de solidariedade e tolerância que o projeto europeu me ensinou, e que prega, mas não pratica. Uma amiga falou-me do campo de refugiados de Bruxelas e ofereceu-me alojamento em sua casa. Perfeito. Decidi fazer a minha parte. Vou. 

Não sei o que me espera, sei que vou dar e receber, aprender, crescer e fazer parte desta História. Sei que serão precisos muitos mais braços, no sítio para onde vou e em todos os campos que, na Europa, se opõem aos muros e às fronteiras, tentando dar esperança e dignidade aos que são iguais a nós e fogem de uma guerra que também é nossa. 

Agora é a minha vez de contar ao mundo o que se passa e dar a conhecer a minha versão, pura e dura, dos acontecimentos, mantendo-me fiel aos princípios que me guiam, e com o único objetivo de promover a tolerância, a justiça e a paz.


(Talvez seja da idade, ou das hormonas, ou da mudança do tempo, mas estas coisas comovem-me.)


2 comentários:

Paulo Topa disse...

Deve ser de várias idades e de várias hormonas... a mim, aconteceu-me o mesmo!

nat. disse...

Obrigada pela partilha!