21 outubro 2015

"besta"




Hoje é dia de B de besta na nossa enciclopédia particular. O meu contributo:

Enquanto espero que alguém vá buscar frases "bestiais" ao Eça, conto que quando Goethe chegou a Weimar (senhores administradores, podem saltar já para a última frase deste texto, é lá que aparece a palavra "besta") o palácio ducal tinha sofrido mais um incêndio, mais um de muitos (era um palácio muito fugaz, ou, melhor dizendo, fogaz) e ainda fumegava. A corte espalhara-se por aposentos provisórios, estava literalmente desinstalada. Há quem diga que foi esse facto que permitiu a Goethe - jovem, genial e sem jeito nenhum para punhos de renda e jogos palacianos - rasgar caminhos culturais revolucionários naquela cidadezinha de província.
Um dos seus primeiros projectos foi a transformação do parque do Ilm. Se me deixassem mandar, ficava como estava: um belo jardim de desenho barroco, cortado por canais e pontes - mistura de Veneza com o mapa quadriculado das cidades americanas. Mas o duque e o seu amigo Goethe queriam um parque com um ar natural, um jardim à inglesa, com caminhos e rios sinuosos, pontes e casas pitorescas, árvores frondosas, ruínas.
Ruínas. Em Weimar sempre houve muitas ideias para pouco dinheiro, e a ruína desta fotografia é bom exemplo do modo como conseguiam make ends meet. Um autêntico três em um: para embelezar o parque à maneira inglesa construíram a ruína de um palácio remoto, reutilizando o entulho do palácio ardido, e fazendo umas lindas janelas muito úteis para os exercícios de tiro, nomeadamente dos atiradores de besta, cuja associação à época já ia no terceiro centenário (e chegou ao quinto, mas depois tropeçou nos nazis primeiro e nos soviéticos a seguir, e lá se foi).


Sem comentários: