03 outubro 2015

Beethoven, sempre



Há 26 anos, três dias depois da queda do muro, o Daniel Barenboim e os filarmónicos de Berlim deram um concerto gratuito para os habitantes da RDA. Tocaram a sétima de Beethoven. Hoje, 3 de Outubro, quando a Alemanha festeja 25 anos de reunificação, é a vez de Simon Rattle, com a mesma sinfonia.

(Nesta entrevista, o Barenboim conta, a partir de 2'0'', um episódio a todos os títulos comovente. Para quem não tem tempo de ver a entrevista, um resumo: no fim do concerto uma senhora deu-lhe um ramo de flores com as mãos a tremer, e contou-lhe a sua história. Tinha casado 30 anos antes, em Berlim leste, e pouco depois teve um menino. Passados alguns meses, o marido foi-se embora e levou o bebé. Apesar dos seus esforços para os contactar, durante 29 anos não teve qualquer notícia. Todos os dias acendia uma vela em casa e rezava para voltar a ver o filho. Dois dias após a queda do muro, alguém tocou à campainha na sua casa - era um homem de 29 anos, o seu filho. Decidiram que a melhor maneira de celebrar o reencontro era assistir ao concerto do Barenboim com os Filarmónicos. E por isso estavam ali.)


Entretanto, numa cidade do sul da Alemanha nasceu um coro feito por refugiados e alguns cantores profissionais. Chama-se Zuflucht ("refúgio"). Não sei quantas vezes já vi esta interpretação do Hino da Alegria, e comovo-me sempre. Desconfio que até o Goethe, aquele coração de pedra, seria bem capaz de chorar uma lagrimita em estereofónico comigo se visse este divã oriente-ocidente, a mistura das culturas que nos enriquece, e a música do nosso Beethoven a unir as pessoas na dor e na esperança.






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