22 setembro 2015

rotas




O cimento do passeio para exercício de regras auto-impostas: pisar apenas os quadrados inteiros, ou seguir o percurso das brechas, ou nunca pisar plantas ou pastilhas elásticas (ou cocó de cão, ça va sans dire) - tudo era pretexto para inventar rotas e andar aos ziguezagues e aos saltinhos na rua.

Inventar rotas pelas rachas no chão da cozinha: os continentes, ilhas e ligações marítimas do meu mapa-múndi. Enquanto esperava que o leite fervesse, contava as voltas ao mundo e à mesa no meio da cozinha. Não sei como é que o leite fazia para começar a subir quando eu estava a caminho dos antípodas, bem me apressava aos saltos do Japão para a China e desta para a Austrália, atravessar o Índico e subir a costa africana e chegar ao fogão. Mal chegava a casa, tinha de ir à pia buscar um esfregão para limpar tudo. É muito difícil ter sete anos, uma imaginação imparável, uma absoluta incapacidade de voltar atrás quando se vai de partida para mais uma circum-navegação, e a responsabilidade de preparar o pequeno-almoço da família.


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