16 junho 2015

marcar uma data



"Ao contrário da morte, o amor, que é o outro nome da vida, não me deixa morrer às primeiras: obriga-me a pensar nas pessoas, nos animais e nas plantas de quem gosto e que vou abandonar. Quando a vida manda mais em mim do que a morte, amo os que me amam, e cresce de repente no meu coração a maré da vida." 


Tenho de comprar a Granta "Falhar Melhor". Quanto mais não seja (e é muito mais), por este texto do Paulo Varela Gomes. Esta frase diz muito melhor do que eu consigo o que sinto perante a hipótese de um dia me eutanizar: sinto-me incapaz de decidir que será este o último abraço que dou a alguém que amo, este o último pôr-do-sol que vejo, este o último sorriso.


4 comentários:

Gi disse...

Ainda bem, Helena, isso quer dizer que tens muitas coisas na tua vida e os momentos de sofrimento são relativamente escassos e controláveis.
Alguém que pense seriamente em deixar a vida tem de sentir precisamente o contrário, não te parece?

Helena Araújo disse...

Eu não estava a falar dos outros, estava a falar da minha impossibilidade de marcar uma data para morrer. Também é verdade que não consigo imaginar um sofrimento tão grande que me faça desistir.

Mas se é para falar dos outros, deixa-me falar de uma outra questão ligada a esta. Há tempos li uma reportagem na Stern sobre pessoas que marcaram a data para ir morrer a Zurique. Havia uma senhora com uma doença degenerativa que quis morrer antes de ficar dependente. Durante a entrevista, a filha dela chorava e dizia que de bom grado a ajudaria e lhe mudaria as fraldas, o que fosse preciso. E que não sabia de que iam falar na viagem até Zurique.
Foi ao ler essa entrevista que me dei conta da minha impossibilidade de marcar a minha própria data, de decidir que este beijo é o último, este dia é o último.

Gi disse...

Eu sei que estavas a falar de ti e não dos outros.
Eu estava a falar de ti e dos outros :-)
Porque eu gostava de marcar a minha data, mas não ainda.

Helena Araújo disse...

brrrrrr

(É nestes momentos que desconfio que sou uma optimista incurável. ;) )

OK, agora a sério: provavelmente o melhor é ter essa possibilidade, e não precisar nunca de a usar.