06 junho 2015

efeitos especiais




Hoje foi dia de Daniel Barenboim com os filarmónicos do costume.

Depois deste concerto, posso dizer que já vi a Anne-Sophie Mutter a tocar violino como se fosse um microfone avariado (foi em Setembro de 2011, uma peça de Wolfgang Rihm) e o Emmanuel Pahud a tocar flauta imitando um gato mau metido numa cave (ou talvez no inferno) (foi hoje, Jörg Widmann). Por mim, podiam acabar com estas experiências.
Mas a Christina gostou. O que me enche de orgulho (gostamos sempre quando os filhos dão passos maiores que os nossos) e revejo a minha posição: então está bem, sempre que a Christina for à Filarmonia podem pôr estas músicas com efeitos especiais.

No intervalo tomámos um café no jardim. Estava um entardecer doce, o sol tocava o dourado da fachada da Filarmonia, as pessoas em calções. Parece verão.







Na segunda parte tocaram a sexta sinfonia de Tchaikovsky - a "Patética".
O Daniel Barenboim excelente, tão mergulhado na música que por vezes ouvíamos a sua respiração ofegante. Outras vezes, nem dirigia: parecia que estava a recitar a música, o corpo parado, os braços em movimentos leves e lentos, quase imperceptíveis. Foram esses os meus momentos preferidos: poesia que saía do corpo do maestro e se espalhava pela sala em forma de música sublime.



O terceiro andamento foi de tal modo forte que o público não aguentou: a sala toda interrompeu a sinfonia para aplaudir longa e entusiasticamente. O Daniel Barenboim encostou-se à barra de protecção do estrado e ficou impacientemente à espera que nós nos calássemos. Mas qual quê - o público estava imparável, electrizado. Ao fim de largos minutos a orquestra conseguiu finalmente avançar para o quarto andamento. No final, uma ovação retumbante, o público de pé, o Daniel Barenboim a mandar a orquestra levantar e a deixar o palco, como se nenhumas daquelas palmas fossem para ele. O público é que não desistia, fazia questão de o aplaudir. Num ambiente extremamente caloroso e divertido, o Barenboim deu dois pares de beijinhos à menina das flores, deu as flores do seu ramo às senhoras da orquestra, e depois deu os verdes que sobraram ao concertino. Gargalhada geral.
Depois de nem sei quantas vindas ao palco os músicos agarraram nos instrumentos e foram-se embora. E ainda bem - caso contrário, provavelmente ainda agora lá estávamos a bater palmas, encantados com tudo e especialmente com este maestro tão excelente, e de trato tão simples e afável.





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