17 janeiro 2015

manifs

(foto)

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Ultimamente os meus filhos não têm mãos a medir: as manifs da segunda-feira do Pegida ("temos de ser muitos mais que eles!"), mais as "Je suis Charlie", mais as reacções vergonhosas contra a vinda de refugiados para a Alemanha, mais o TTIP - entre tantos outros motivos para sair à rua e lutarem pela sua Alemanha.
Ontem estavam a combinar a ida a Magdeburg, para impedir uma manifestação da extrema-direita. A saída era às sete da manhã, pelo que à noite combinei com o Matthias que tratava do Fox, e despedi-me dele pedindo-lhe para ter cuidado. Não sei da missa nem a metade, e o que sei já me dá motivos mais que suficientes para ficar inquieta: os meus filhos no lado dos fora-da-Lei, o momento horroroso de pânico quando a polícia os ataca, as regras rigorosas (mesmo simples jornais para proteger as canelas são proibidos), o perigo da viagem de regresso num comboio onde se juntam passageiros das duas frentes.

Temos falado bastante sobre isso. É mesmo preciso andarem em manifs não autorizadas? É mesmo preciso tentarem impedir os outros de se manifestarem? Não basta juntarem-se noutro ponto da cidade, mostrando um número de manifestantes dez vezes maior? E essa maneira justiceira de ocupar a rua não vai contra os princípios do Estado de Direito? E querem mesmo estar do lado de tanta gente que tem motivos bem diferentes dos deles, e não respeita os valores democráticos? Digo-lhes: marquem uma manifestação legal, e eu vou convosco.
Eles sabem que há muita gente do seu lado da manif que não partilha os seus princípios. E vão na mesma, porque lhes é muito importante impedir a passagem da extrema-direita nas ruas alemãs. Não concordo, não gosto que o façam. Mas sinto uma enorme admiração pela coragem e generosidade destes miúdos: milhares deles que se levantam de madrugada num sábado, para mais sabendo que correm o risco de apanhar da polícia e dos neonazis, e vão dar o corpo ao manifesto da Alemanha que querem ter.

Ao sair com o Fox estranhei ver a bicicleta do Matthias. Então ele não devia estar já no comboio a caminho de Magdeburg? No regresso, tinha uma mensagem da Christina: "liga-me quando te levantares". Telefonei-lhe. A manif de extrema direita em Magdeburg foi cancelada, e o grupo resolveu ir para Frankfurt (Oder), onde está anunciada outra. Queria dar-me o número de telefone de uma amiga, para o caso de a polícia a prender e lhe tirar o telemóvel. Havia medo na voz dela.

O Matthias resolveu não ir a Frankfurt. Para preparar a sua ida, em breve, para a Costa Rica, levou ontem um cocktail de vacinas e não se está a sentir bem. Mais me impressiona: apesar de doente, estava a planear ir para aquelas correrias loucas nas ruas de Magdeburg.

A Christina já me avisou que na próxima segunda-feira há uma manifestação anti-Pegida autorizada, e lembrou-me a promessa: se é autorizada, vens? Claro que vou, e levo amigos. Temos de ser cem vezes mais do que eles. Vou-me sentir muito honrada por desfilar ao lado dos meus filhos e dos seus amigos.

3 comentários:

Luís Novaes Tito disse...

Chapeau!

Interessada disse...

Parabéns Helena, pelo respeito que tem pelas opções dos seus filhos. Se não existissem muitos, generosos e corajosos como eles, a Terra não giraria.
Sei que é bom poder sentir orgulho neles.

Helena Araújo disse...

Obrigada!