16 outubro 2014

relatório de actividades

Ao fim de mais de três semanas em Portugal, comecei a visitar as fotos da minha cozinha como se fosse uma miragem daquelas que só há na internet. Regresso no dia 20, dia 19 ainda vou trabalhar um bom bocado, e no entretanto gozo a vida, que também mereço.

Ontem fui com duas amigas ver Os Maias, a versão de 3 horas, no Cinema Ideal. No intervalo encontrámos o João Botelho à porta, que me apresentou aos amigos como "uma cineasta". Não há dúvida: gente grande é outra coisa. Até me lembrei de um dia em que, recém-licenciada, cumprimentei um antigo professor com um "olá, colega!", e ele respondeu "alto lá! a antiguidade é um posto!" Claro que era uma piadinha, mas graça por graça, prefiro o humor do João Botelho. O qual acrescentou logo a seguir: "mas eu estou interessado é no marido dela". Estão a planear umas aventuras noutro continente no próximo Verão, e eu em Berlim a fazer o Cinemagosto. Triste vida. A minha sorte é que Portugal tem um Presidente da República muito atento e actuante, pelo que o meu abnegado sacrifício em prol da cultura portuguesa será devidamente recompensado com uma medalhinha no próximo 10 de Junho. É desta!

E os Maias? Adorei o Ega, e gostei muito do Dâmaso, do avô, daquele asqueroso da Corneta (está bem, vou contar tudo: também estava no cinema, e conheci-o como pessoa tão simpática que só pode ser um excelente actor para poder compor tão bem aquele "chouricinho de pus"). Gostei deste olhar sobre o livro. Os cenários são uma invenção fenomenal (não há como os portugueses para fazerem omoletes sem ovos).

Já a Maria Eduarda, não sei que diga: eu imaginava-a mais ampla, mais roliça, muito mais sensual. Mais Nigella Lawson. Não me parece que as mocinhas de hoje em dia, esses paus de virar tripas, sejam uma boa escolha para encarnar os livros do Eça. É que trata-se de encarnar, e não de desossar. 

Em suma: quando o João Botelho resolver filmar a Tragédia da Rua das Flores, havia era de se lembrar de mim para o papel da Genoveva.

(Este é o momento em que o Ricardo Espírito Santo mete a cabeça nas mãos e diz "ó Helena, então e aquele plano que me obrigaste a tirar do ARtMÉNIA, porque estavas demasiado ampla, roliça e sensual? e então aquela conversa de sim, queremos contar a História dos Arménios mas não é preciso começar por esta vénus pré-histórica, heinhe?")

(la donna è mobile, é o que é)

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Que estranho, já escrevi um post inteiro e ainda não falei do tempo em Lisboa. Pois tem sido assim: todos os dias saio de guarda-chuva, e nunca chove. O meu guarda-chuva tem poderes mágicos. Pelo que seria boa ideia a Câmara de Lisboa pagar-me para passear todos os dias o guarda-chuva por aí - mesmo que me pagassem um salário do escalão "remediado" sempre lhes saía mais barato que limparem as sarjetas, soltarem as ribeiras, e tal.


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