25 agosto 2014

David Bowie em Berlim






Decididamente, já não tenho idade para estas coisas.
Demasiada gente, letras pequenas, fotografias pequenas (onde é que tinha a cabeça quando deixei os óculos na carteira que ficou à entrada?), pouca luz. Vou com a massa, alguns centímetros por minuto, faço cara de pitosga para tentar ler, e pergunto-me que raio estou aqui a fazer. A música começa nos meus ouvidos, For here /  Am I sitting in a tin can /  Far above the world, ainda sorrio por dentro, "olha mais outro numa cena claustrofóbica", mas logo esqueço as letras pequenas e as pessoas que acotovelo sem querer (entschuldigung, entschuldigung), e mergulho na exposição.






Um desvario. Ao contrário das exposições habituais, em que vamos avançando de objecto em objecto, organizadamente e com tempo para compor as peças do puzzle que já trazemos começado, esta atira-se a nós, entra pelos poros, tolda o juízo. A música acompanha-nos sempre, algumas pessoas dançam. Os objectos (a chave da sua casa em Schöneberg - quem é que guarda as chaves das casas que deixou?) misturam-se com textos, desenhos, fatos e fotografias, os filmes agitam, a música devolve as referências. Embora tudo pareça feito como estratégia para a iconização do David Bowie, dou comigo a simpatizar com o humano sob aquela personagem que se reinventa e experimenta pelas roupas e pinturas, pelas músicas e pelos objectos que são marco e mapa.

Paro mais longamente nos quadros que pintou em Berlim, influenciado pelo movimento Brücke. Os olhos, como é que ele fez para se passar para os olhos que pintou?





No fim, passo pelo "Ziggy Stardust yourself". Saio desta exposição um pouco diferente do que entrei, e tentada a mais "Helena Araújo yourself" - decididamente ainda tenho idade para estas coisas. Venham mais exposições assim: é um prazer ser arrebatado pelo que se pretendia apenas ver.




2 comentários:

lb disse...

Tenho imensa pena não poder visitá-la. O Frederico já me contou que era muito muito boa...
Lutz

Helena Araújo disse...

Era, era! Pode ser que daqui vá para Madrid, ou assim. Já veio do Canadá, bem podia dar mais umas voltinhas por aí.